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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Darwin e as emoções animais

Charles Darwin defendia que os animais eram capazes de experimentar emoções. Entre essas emoções incluía, por um lado, a raiva (rage) e o medo (fear) e por outro o prazer (pleasure), e a alegria (joy). Darwin negava, no entanto, que os animais fossem capazes de chorar:

"A woman, who sold a monkey to the Zoological Society, believed to have come from Borneo (Macacus maurus or M. inornatus of Gray), said that it often cried; and Mr. Bartlett, as well as the keeper Mr. Sutton, have repeatedly seen it, when grieved, or even when much pitied, weeping so copiously that the tears rolled down its cheeks. There is, however, something strange about this case, for two specimens subsequently kept in the Gardens, and believed to be the same species, have never been seen to weep, though they were carefully observed by the keeper and myself when much distressed and loudly screaming."

Charles Darwin (1872)
The expression of the emotions in man and animals
London: John Murray, pp.135-6


São famosos os relatos de elefantes que choram os seus mortos, de cães que ficam cegos de raiva ou de gatos felizes por se deitarem ao colo dos seus donos. Mas sentirão os animais o que nós pensamos que eles sentem? Qual a sua opinião sobre as emoções animais?

6 comentários:

  1. A emoção possui uma componente psíquica e outra física. A psíquica é uma agitação da consciência provocada por uma situação inesperada. Esta consciência é o conhecimento que um indivíduo possui dos seus pensamentos, sentimentos e actos. Tal conhecimento é uma construção elaborada pela inteligência, a partir das experiências adquiridas. E quem tem a capacidade de vivenciar essas experiências, tanto ao nível físico como mental, diz-se ser um animal senciente.
    Uma vasta gama de estudos sobre animais sugere actualmente que as raízes da cognição são profundas, generalizadas e altamente maleáveis e prova disso são o Alex, a Betsy e a Maya entre outros - animais e colegas de longa data em investigações cognitivas. O Alex, era um Papagaio Cinzento Africano que contava, conhecia cores, formas e tamanhos e possuía uma compreensão elementar do conceito abstracto de zero. A Betsy, uma Cadela Border Collie que retém um vocabulário crescente que rivaliza com o de uma criança pequena e a Maya, um Golfinho-Roaz com capacidades de comunicação e de imitação excelentes.
    A componente física é a resposta do organismo ao estímulo ambiental. A entrada do estímulo é efectuada por orgãos receptores que captam e codificam as informações. Posteriormente efectua-se o processamento através do centro coordenador (Sistema Nervoso Central e Periférico), que conduz e interpreta as informações provenientes dos mecanismos de recepção, decide e coordena as respostas que serão executadas pelos mecanismos de reacção. A manifestação exterior deste processamento dá-se através dos órgão efectores (mecanismos de reacção) como os músculos e glândulas. A experienciação de sensações agradáveis ou desagradáveis é meramente uma construção de circuitos neuronais específicos que medeiam essas sensações através da libertação de hormonas que estimulam esses circuitos. Para caso de exemplo, em 1954, Olds e Milner constataram, em ratos, que quando se estimula suavemente a zona do hipotálamo (medeia as sensações prazenteiras) estes apertavam uma alavanca várias vezes para que a estimulação não cessasse. Quando se colocavam os eléctrodos noutras partes do cérebro, os ratos pressionavam uma outra alavanca para eliminar a estimulação.
    É minha opinião que ainda estamos nos estádios primórdios de estudos sobre cognição mas, a meu ver, os animais têm diferentes níveis de inteligência, de organização neuronal e respectivos níveis de emoções. Ou seja, possivelmente quanto maior for a complexidade da consciência, maior será a estruturação da emoção.

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  2. Obrigado, Mónica, por esta autêntica aula sobre fisiologia das emoçoes. Em determinado ponto diz que "a experienciação de sensações é meramente uma construção de circuitos neuronais". O que a meu ver quer dizer que ser-se senciente depende muito da posse de características anatómicas e fisiológicas que o permitam. Mas partindo para as emoções, considera ser também este o caso? Isto é, o que é preciso para se sentir emoções? Pode uma formiga sentir emoções? E de que forma isso pesa na forma como lidamos com os animais?

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  3. Após uma pesquisa bibliográfica esclarecedora, cimento a opinião de que as emoções são respostas fisiológicas a um estímulo ambiental.
    A filtragem de estímulos, de informação irrelevante e outras formas de processamento sensorial, são características de todos os sistemas nervosos dos animais. Os receptores sensoriais ignoram alguns estímulos, em detrimento de outros, para a sobrevivência e reprodução. Ao ignorar alguma potencial informação, os animais são capazes de se focar nos estímulos relevantes no seu ambiente, aumentando as hipóteses de uma reacção pronta e efectiva aos estímulos-chave. Deste modo, posso concluir que as emoções podem ser uma forma de comunicação válida.
    Os animais experimentam diferentes níveis de intensidade e num limite de componentes e características de emoções, só que nem todos os seres não-humanos possuem a capacidade de percepção e sua posterior análise. Os humanos têm essa capacidade devido à organização neuronal e à linguagem que nos permite articular os nossos pensamentos e mesmo assim, por vezes, temos dificuldade em verbalizar as nossas emoções.
    O exemplo da formiga pode ser integrada nesta premissa já que ela reage a estímulos, donde tem emoções, mas poderá não as percepcionar nem analisar.
    Relativamente à forma como lidamos com os animais, é minha opinião que mesmo que fosse de domínio público a informação de que os animais demonstram emoções, isso não mudaria o facto das pessoas atribuírem um valor às diferentes categorias de animais. Continuaria a existir a categoria de animais com valor intrínseco, os com valor instrumental e os sem valor porque a mente da maioria dos humanos está programada para visões contratualistas (categoria de animais com valor instrumental e com valor intrínseco) e de relações (categoria de animais com valor intrínseco, numa nota positiva e os sem valor, numa nota negativa).

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  4. Não consigo conceber que reagir a estímulos seja condição suficiente para se ter emoções, como afirma no caso da formiga. Tem de haver algo mais, de outra forma todos os seres vivos, das amibas às plantas, teriam emoções. Confesso também que me custa compreender o seu argumento de que é possível ter emoções sem as sentir (ou como diz, "não as percepcionar e analizar"). Porque uma emoção é muito mais do que uma resposta fisiológica a um estímulo ambiental. Tomemos como exemplo o sofrimento: eu posso ter uma dor (resposta ao estímulo) sem a sentir (porque tomei um analgésico ou tenho outra dor maior) mas não posso sofrer (emoção) sem sentir esse sofrimento, pois de outra forma não sofreria.

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  5. No primeiro comentário referi que as emoções englobam um conjunto de componentes psíquicas e físicas. Tal visão e respectivas definições foram baseadas num livro de filosofia (para a componente psíquica) e em alguns livros de etologia (para a parte física).
    No segundo comentário inclinei-me somente para a constituinte física devido à análise de artigos que apoiavam essa visão e que considerei mais plausível.
    Continuo inclinada para esta tese mas, pelo que percebi, o Professor acredita haver, para além das respostas fisiológicas, uma parte importante - a consciência. Ora a consciência é o conhecimento sendo este uma construção da inteligência. A inteligência é um conjunto de factores genéticos, de processos neuronais e endócrinos e das respectivas manifestações externas desses processos. Assim e de acordo com o ditado popular “Todos os caminhos vão dar a Roma”, ou seja, tudo se trata de reacções fisiológicas a um estímulo ambiental originadas por processos neuronais que consequentemente activam outros sistemas como por exemplo o endócrino etc.
    O exemplo do sofrimento referido pelo Professor pode ser transmitido da seguinte forma: Só se pode sentir dor se tivermos consciência desta. A minha visão sobre consciência está exposta. Qual é a sua?

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  6. Cara Mónica:

    A minha visão sobre a consciência animal está publicada e pode encontrá-la aqui:
    http://jcienciascognitivas.home.sapo.pt/09-03_santana.html

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