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domingo, 31 de outubro de 2010

Nagoya virá a tempo de salvar o Macaco Constipado?

Credit: Thomas Geissmann

O Ano Internacional da Biodiversidade tem sido pródigo em notícias sobre a extraordinária riqueza de vida na Terra. Uma expedição recente à Papua e Nova Guiné, por exemplo, levou à identificação de cerca de 200 espécies, entre animais e vegetais, nunca antes vistas. A comunicação social tem estado particularmente atenta à descoberta de novas espécies, em especial daquelas mais exóticas e bizarras. Insectos e anfíbios são vistosos mas pouco mediáticos ao passo que novos mamíferos são raros e normalmente diminutos. Mas não é todos os dias que se anuncia uma nova espécie de primata!

Uma equipa internacional publicou um estudo na revista American Journal of Primatology onde dá conta da descoberta de um bizarro macaco sem nariz e que, segundo relatos das polulações locais, espirra sempre que chove. O Rhinopithecus strykeri vive nas florestas do Nordeste de Myanmar (antiga Birmânia), mas nunca foi avistado vivo por cientistas e por isso a imagem acima foi criada em computador. A população deve rondar os 300 indivíduos, o que a coloca, desde já, como uma das espécies mais ameaçadas do planeta.

Por estes dias, em Nagoya, no Japão, Ministros de 179 países aprovaram um novo plano global para travar a perda de biodiversidade do planeta. Se bem se lembram, o anterior objectivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (2002) de alcançar, até 2010, uma redução significativa do actual ritmo de perda de biodiversidade resultou num rotundo fracasso. Os objectivos eram irrealistas, mal concertados e não pareciam contar com o simples facto de que os países mais ricos em termos de biodiversidade serem, também, dos mais pobres do planeta. Com tudo isto, o ritmo em vez de diminuir, aumentou.

Passados oito anos, a CDB parece ter introduzido novos factores na equação que podem augurar um futuro menos negro para a vida na Terra, nomeadamente o compromisso de aumentar a percentagem de áreas protegidas - um dos poucos mecanismos que tem provado ser eficiente na protecção de ecossistemas - e a partilha dos lucros gerados pelo uso de recursos genéticos com os países de origem. Mas tenho dúvidas que medidas como estas sejam suficientes. A meu ver, o combate à perda de biodiversidade deve ser encarado como uma faceta do combate maior à pobreza e à exclusão social, capítulo sobre o qual os intervenientes da CDB não têm qualquer poder. E assim uma pergunta subsite: pode ainda uma conferência no Japão ajudar um macaco em Myanmar?

3 comentários:

  1. De facto, quase todas as questões de ética animal estão associados a questões económicas, e é muitas vezes a questão económica que faz com que se torna um problema ético (o uso de animais na investigação científica, fora do desenvolvimento e testes de fármacos, é se calhar uma excepção). Os problemas de bem-estar na pecuária não surgem porque não sabemos como alojar, manusear e abater animais sem lhes causar mal-estar. Surgem porque não há no actual sistema económico recursos para seguir melhores práticas.

    Não é por nada que UFAW - Universities Federation for Animal Welfare - tem como tema Making animal welfare improvements: economic incentives and constraints
    http://www.ufaw.org.uk/UFAWSYMPOSIUM2011.php

    Mas pobreza e exclusão social só parece ser parte do problema - as vezes estão interesses económicos fortes directamente atrás de ameaças contra a biodiversidade.

    Mas se calhar se a defesa da biodiversidade fosse útil para o desenvolvimento social das populações humanas que estão geograficamente mais próximas, estas poderiam-se associados importantes na resistência contra a destruição de habitats?

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  2. É exactamente esse o caso do projecto Life Priolo da ilha S. Miguel, que no espaço de 6/7 anos foi capaz de fazer toda a diferença para a população local, uma das mais pobres do nosso país. Desenvolvimento humano e biodiversidade não são conceitos incompatíveis.

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  3. É incrível que ainda não se tenha podido obter um só exemplar vivo para caracterização da espécie. Estive a ler na wikipedia sobre esta espécie e tudo que há são cadáveres e avistamentos. Interrogo-me se a população existente possui um pool genético suficientemente robusto que lhe permita evitar a extinção.

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