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segunda-feira, 21 de março de 2011

Knut, um simbolo da conservação ou da opressão?



Poucas serão as pessoas ligadas à conservação animal que nunca ouviram falar de Knut. O primeiro urso-polar a nascer no Zoo do Berlim em mais do que 30 anos, Knut foi rejeitado pela mãe e adoptado por biólogos do zoo que conseguiram criá-lo em ambiente artificial e em contacto com seres humanos. Na altura da sua adopção colocou-se o dilema: seria melhor eutanasiar Knut para que ele não viesse a sofrer ou, pelo contrário, adoptá-lo e através disso sensibilizar o público para perigo de extinção do uros polar? E aqui colidem duas formas muito diferentes de entender a ética animal: por um lado temos a visão de que o bem-estar individual se sobrepõe aos interesses da espécie e por outro temos um indivíduo instrumentalizado para, de alguma forma, beneficiar a espécie que ele representa. As pessoas responsáveis por Knut optaram pela segunda via. Knuk morreu em idade precoce e exibindo sinais evidentes de disfunção comportamental mas será que os fundos que ele gerou e a atenção mediática que despertou suplantam o seu sacrifício?

8 comentários:

  1. Este video clip é de facto perturbador - os disturbios comportamentais parecem completamente dysfuncionais.

    É verdade que mesmo quando criados normalmente pelos pais biológicos, o urso polar é provavelmente a mais problematica especie a manter em jardins zoológicos - ver por exemplo aqui http://www.sciencedaily.com/releases/2003/10/031002060512.htm para um resumo do trabalho da equipa de Georgia Mason nesta materia.

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  2. O caso Knut dá pano para mangas.

    Confrontados com um mamífero rescem-nascido incapaz de sobreviver sozinho, o que fazemos?

    Claro que a reacção instintiva é de cuidar. Mas Knut também mostra que é preciso pensar um pouco além do instintivo, o que de facto foi mais do que evidente para muita gente logo na altura da adopção.

    São precisos cuidados e expertise muito próprio para que um animal criado por humanos aprende que não é um humano, e para que possa ser integrado com animais da sua própria especie. Não é impossível, como ilustra por exemplo o caso do leão Christian que muitos já veram na televisão ou no youtube http://en.wikipedia.org/wiki/Christian_the_lion. Há em Africa especialistas em rehabilitação destes grandes carnívoros para a vida selvagem.

    No caso de Knut, que pertence a uma espécie que se mantém em cativeiro apenas a grandes custos de saúde e bem-estar dos animais (ver o meu comentário anterior), penso que a partida era uma missão impossível.

    E o caso ilustra quão confuso é o nosso relacionamento com os outros animais. Como escreve Jonathan Safran Foer no seu recente livro Eating Animals (Comer animais):
    “Se você for ver Knut e ficar com fome, a poucos metros de seu cercado há um quiosque vendendo salsichas ‘Wurst de Knut’, feitas com carne de porcos de criações industriais, que são pelo menos tão inteligentes e dignos da nossa atenção quanto Knut. Isso é barreira entre as espécies.”

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  3. O Zoo de Berlim divulgou um comunicado de imprensa com o resultado preliminar da autópsia de Knut, referindo que o seu cérebro apresentava "alterações significativas" e que isso poderia explicar a morte súbita (embora me pareça, pelas imagens, que Knut morreu afogado antes de morrer do que quer que seja). Era público que Knut sofria de distúrbios comportamentais mas o que eu penso não ser público é se Knut era sujeito a algum tipo de medicação ou tratamento, e isso seria interessante de saber.

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  4. Para mostrar aquele nível de comportamentos estereotipados, o cerebro tem inevitávelmente ter alterações significativas.

    Como o urso polar é uma das especies mais sujeitas a desenvolver esterotipias em resposta ao ambiente deseadequado, será a interpretação mais imediata. Mas podia de facto ter tido uma alteração "biológica" , cuja origem é completamente independente das condições em que Knut foi criado, mas que em si dé origem a problemas comportamentais.

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  5. Antes de mais há que separar o assunto “Knut” do assunto “Jardins Zoológicos (Zoos)”.
    É facto mais que sabido a importância que os Zoos desempenham na manutenção das mais diversas espécies animais. Não só pela sensibilização da sociedade para a protecção dos habitats naturais como na própria preservação das espécies. O bisonte europeu (Bison bonasus), o oryx da Arábia (Oryx leucoryx) e o cavalo de Przewalski (Eqqus przeqalski) são três espécies que foram consideradas extintas no seu habitat natural e que se encontram vivas hoje em dia graças aos exemplares que existiam em cativeiro. Igualmente o condor da Califórnia (Gymnogyps californianus) e o furão de patas negras (Mustela nigripes) existem em estado selvagem hoje em dia, unicamente graças à sua reprodução em Zoos. Mais recentemente poderá ser ainda levado a cabo o melhor e mais espectacular trabalho de preservação de uma (sub)espécie, o rinoceronte branco do norte, graças à sua preservação em Zoos.

    Sobre o Knut e sobre os ursos polares, será importante primeiro desmistificar o assunto dos ursos polares. Esta espécie não é, nem nunca foi, a mais difícil de manter ou sequer reproduzir em cativeiro. Antes pelo contrário. Durante muitos anos a população de ursos polares em cativeiros multiplicou-se a uma taxa mais que razoável para as condições que os Zoos ofereciam. O decréscimo na população em cativeiro nos últimos 15anos não se deveu à “sua dificuldade” mas sim a politicas internas das instituições que os acolhiam. Os ursos polares sempre foram mantidos em condições sub-óptimas, em “grottos” com poucas ou nenhumas condições e foi opção de muitos Zoos optarem pela não continuidade da espécie (seja por cedência a outros Zoos ou apenas pela não reprodução), sendo o Zoo de Berlin um exemplo actual desta opção.

    Mais recentemente, embora alguns dos Zoos que ainda possuem esta espécie os mantenham em estado não reprodutivo, têm-se assistido à construção/renovação de muitas instalações proporcionando meios óptimos para a manutenção e reprodução desta espécie, tais como em Toledo, Memphis, Detroit e Copenhaga (a inaugurar em2012) sendo de esperar o aumento da sua população em cativeiro nos próximos 10anos.
    Convêm igualmente referir que o Knut não foi o primeiro urso polar a nascer no Zoo de Berlin, mas sim o primeiro a passar a marca dos 12 meses.

    Espécies difíceis de manter em cativeiro serão alguns cetáceos e elefantes marinhos devido ao seu tamanho e à componente aquática algo difícil de reproduzir em cativeiro; bem como algumas aves devido ao fraco conhecimento do seu comportamento e condições necessárias tais como o Balaeniceps rex, alguns Bucerotidae spp. E mesmo assim, em 2009 assistiu-se ao primeiro nascimento de Balaeniceps rex (no Parc Paradisiaco) e de Rufous Hornbills (no Juroung BirdPark) demonstrando que o sucesso da sua manutenção e reprodução em cativeiro prende-se apenas com o fornecimento (ou não) das devidas condições.

    Poder-se-á questionar se manter um animal selvagem em cativeiro é eticamente válido, mesmo que seja para assegurar a sobrevivência da sua espécie. No entanto, penso que esta questão é automaticamente respondida, pois para atingirmos o objectivo acima referido, ou seja, para obtermos taxas de reprodução aceitáveis em cativeiro, teremos que fornecer aos animais condições óptimas para tal, salvaguardando o seu bem-estar.

    Por fim, o Knut não é de maneira nenhuma um exemplo a seguir ou sequer a referir. Representa tudo o que os Zoos são contra: Humam imprinting, condições de alojamento inadequadas, sensacionalismo barato por parte da imprensa desde o seu nascimento até à sua morte e um processo inadequado de separação do seu tratador após os 12meses de vida, que resultou num urso em stress durante muitos meses (e quem visitou o Zoo desde Março 2007 até Setembro 2008 de certeza que se lembra do que viu …).

    Para terminar, aproveito para perguntar se no meio deste mediatismo todo que a morte de Knut recebeu, alguém sabe quem é (e o que aconteceu) Torgamba ou quem sabe dos mais recentes acontecimentos entre Fatu e Suni?

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  6. pererianlr, obrigada pelo seu comentário.

    Não há duvida que está bem informado sobre questões de conservação e o papel dos jardins zoologicos. Traz para o debate uma serie de exemplos de sucesso de actividades de conservação, o que é óptimo.

    Por um lado faz todo o sentido separar o assunto Knut do assunto conservação em geral.

    Mas por outro lado, penso que o assunto ilustra bem o dilema que um jardim zoologico mesmo dos melhores, mais informados e mais empenhados enfrentam. Por um lado há o interesse na conservação, por outro lado há a necessidade de atrair um público que paga por ver animais. O melhor para muitos animais, sobretudo se a intenção é de os re-introduzir na natureza seria a criação em espaços muito grandes e longe de exposição humana. Mas quem visita o zoo quer ver o animal, não quer ver três hectares de floresta e ouvir que algures lá está um lince.

    Podemos desculpar completamente o jardim zoológico do Berlim? Toda a culpa é da comunicação social?

    No que diz respeito à dificuldade de manter ursos polares em cativeiro, o meu comentário foi um pouco generalista, pelo que peço desculpa. O que parece claro da investigação científica é que entre os ursos existentes em jardins zoologicos há mais problemas com disturbios comportamentais e com mortalidade infantil do que em qualquer outra especie. Mas isto pode tanto ser por os ursos estar particularmente mal alojados, como por serem particularmente difícil. O que leva os investigadores em questão a pensar que os ursos são difíceis é a enorme discrepancia entre o território natural deles e o espaço que podem ser oferecidos no zoo.

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  7. Cara Anne,

    Novamente há que separar aqui os assuntos.

    Primeiro há que referir que os Zoos não têm qualquer interesse em reintroduzir os animais que expõem. Como refere, e bem, para reintroduzir tais animais, esses não poderiam ser criados e mantidos em instalações públicas, pois tal diminuiria (ou mesmo impossibilitaria) a sua colocação em estado selvagem. A função primordial dos Zoos nesse campo é a manutenção de populações geneticamente viáveis, servindo como um “back up” caso seja preciso voltar a reintroduzir essas espécies. E quando tal acontecer, os animais elegíveis não serão os mantidos em condições normais de Zoo, mas sim os criados em recintos próprios para essa finalidade. E mesmo esses, muitas vezes vão para recintos de semi-liberdade e só os descendentes desses é que são verdadeiramente elegíveis para a liberdade total. Aqui permita-me referir o grande marco que foi e é o Andalas, nascido em Cincinatti e mantido em semi-liberdade na Indonésia. Convêm aqui realçar que muitos Zoos possuem parques paralelos, em local distinto e onde o comum dos mortais não tem acesso, que serve como base de reprodução para algumas espécies e onde também são mantidos os animais destinadas a participar nesse tipo de programas de reintrodução.

    A questão das instalações grandes é pertinente e actual. Houve muitos Zoos que criaram instalações enormes (de 2 ou 3 hectares como a recente instalação para os Chimps do Zoo de Kansas ou os Gorilas do Zoo de Raguman). Essas instalações, embora não sirvam para atrair o publico pois estes dificilmente conseguem localizar o animal numa instalação tão grande, tinham como propósito fornecer melhores condições aos animais. Mas o que se verificou (e que se verifica) é que efectivamente os animais optam por utilizar apenas parte das instalações, não havendo melhorias na saúde dos animais ou nas taxas de reprodução, mostrando que o tamanho da instalação não é o mais importante. Não quero com isto dizer que o tamanho não importa. Quero sim dizer que mais que o tamanho, o que importa é a qualidade. É possível criar instalações muito boas com dimensões perfeitamente reproduzíveis num Zoo citadino. E de novo, e porque acredito em exemplos práticos, basta olhar com atenção para o programa de criação de gorilas do Howllet’s zoo.

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  8. (continuação)

    Sobre os ursos polares, a minha opinião vai de acordo com o que escrevi acima e no meu post anterior. Não são animais difíceis de manter e reproduzir em cativeiro. São apenas animais que durante muito tempo foram mantidos em condições deploráveis. Durante anos e anos os ursos (não só os polares) eram mantidos em instalações pequenas, nada naturais e sem quaisquer condições. Em 2008 a ISIS registava 75 Zoos com ursos polares. Destas 75 instalações, quantas eram dignas de registo? Quantas tinham sequer substrato mole? À cerca de 30 anos quando os Zoos começaram a mudar a sua filosofia, melhorando as instalações de quase todas as espécies, os ursos foram os menos privilegiados e só recentemente têm aparecido instalações dignas. Até hoje em dia se comparar-mos as instalações dos ursos, especialmente na Europa, com as dos outros mamíferos (elefantes, primatas …) iremos encontrar diferenças abismais. A situação dos ursos polares era ainda pior, pois era habito mantê-lo em instalações de cimento, onde a única coisa natural era a água. Nem é preciso ir muito longe para confirmar estes factos, o próprio Zoo de Lisboa na década de 90 manteve os seus três ursos polares em condições horríveis (onde agora está a nova instalação dos elefantes africanos) e os ursos pretos e pardos eram mantidos em condições longe das óptimas. Nestas condições é claro que os ursos, ou qualquer espécie animal, irá manifestar comportamentos anormais. E aqui entre nós, só o facto de se manterem vivos e de se reproduzirem já era muito bom!

    Para terminar sobre os ursos polares, gostaria de convidá-la a visitar (ou pesquisar na net) o Artic Ring do Zoo de Detroit, Glacier Run do Zoo de Louisvile ou mesmo as instalações de San Diego, Toronto, Memphis ou de Toledo. Igualmente poderá ver as instalações para os ursos no Zoo de Brookfield, de Woodland, Minnesota ou de Oklahoma. Todas estas instalações são exemplos de que é possível (e até barato) criar óptimas instalações para ursos, e que estes não devem ser considerados como o patinho feio.

    Esta história das espécies pouco aptas para cativeiro ou que precisam de muito espaço, parece-me quase sempre mais uma desculpa do que uma realidade. À 10 anos atrás toda a gente dizia que era impossível manter –se em cativeiro e muito menos reproduzir com sucesso Pandas e Gorilas (falando dos mais populares) e hoje em dia ….

    Sobre o Zoo de Berlin, desculpa-lo em relação a quê? Às más instalações? À sua politica na criação do Knut? Penso que o Zoo de Berlin não serve como exemplo para quase nada … daí ter referido desde logo a importância em separar o assunto Knut.

    http://imageshack.us/m/508/4475/4483659857820a194288b.jpg
    (Artic Ring, Zoo de Detroit)

    Atenciosamente
    Nanci

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