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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Seminário sobre Ética Ambiental na FLUL


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Seminário sobre Bem-estar Animal - Coimbra

O Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos Veterinários, em parceria com a Direcção de Serviços de Alimentação e Veterinária da Região Centro – DGAV e com a colaboração da Escola Universitária Vasco da Gama, está a organizar um Seminário referente aos temas:

- RAÇAS POTENCIALMENTE PERIGOSAS: Comportamento;

- BOVINOS E SUÍNOS: Bem Estar animal na Exploração – Desafios em 2013;

- INSPEÇÃO SANITÁRIA: Abates de Emergência.

O evento realizar-se-á no dia 10 de Novembro de 2012, no Auditório da Escola Universitária Vasco da Gama, em Castelo Viegas em Coimbra.

Inscrições até às 16h00 do dia 09 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ignorância ou ideologia?


Há um aparente paradoxo entre a opinião predominante entre cientistas portugueses (e a qual partilho) de que teorias como o criacionismo ou o ‘intelligent design’ não se apresentam como problemáticas em Portugal, e os dados apresentados por Jerry Coine que mostram que cerca de 25% dos portugueses consideram a teoria da evolução falsa. Não resisti a debruçar-me sobre esse paradoxo, e fui assim conferir o artigo original citado por Coyne (e do qual ele obteve o gráfico). O artigo original não é acessível através do website da revista (mas poderão facilmente encontrá-lo através de uma pesquisa no Google).  


 Este artigo fora publicado em 2006 na Science, por Jon D. Miller, Eugenie C. Scott e Shinji Okamoto, respectivamente dois investigadores dos Estados Unidos e um do Japão. Como acontece frequentemente em artigos publicados nestas revistas de elevado factor de impacto e que são extremamente condensados, para aferir como o estudo foi de facto conduzido o que precisamos de ler é o material de suporte disponível online.

A partir daqui, procurei identificar o que de facto foi perguntado neste estudo e cujas respostas servem de base a este gráfico. 

Estes dados referentes à Europa provêm do estudo 63.1 do Eurobarómetro. Este foi conduzido usando um questionário extenso, sendo que Miller et al não fornecem nenhuma informação acerca de que parte dos dados foi usada na sua comparação com os provenientes dos Estados Unidos e o Japão, mas as únicas perguntas que dizem respeito à evolução encontram-se na questão Q10. Segue uma lista de afirmações apresentadas aos respondentes para testar os seus conhecimentos em áreas da Ciência e Tecnologia (nota: a tradução aqui apresentada e a nossa do inglês e difere ligeiramente da versão portuguesa do inquerito original).

- O centro da Terra é muito quente
- O Sol orbita em torno da Terra
- O Oxigénio que respiramos provém das plantas
- O leite radioactivo torna-se seguro após fervido
- Os electrões são mais pequenos que os átomos
- Os continentes em que vivemos têm-se movido durante milhões de anos e continuar-se-ão a mover no futuro
- São os genes da mãe que determinam se o bebé será um rapaz ou uma rapariga
- Os primeiros seres humanos viveram no mesmo período que os dinossauros
- Os antibióticos tanto matam bactérias como vírus
- Os lasers funcionam pela focalização de ondas sonoras
- Toda a radioactividade é produzida pelos seres humanos
- Os seres humanos, tal como os conhecemos, desenvolveram-se a partir de outras espécies mais antigas
- A Terra demora um mês a dar uma volta em torno do Sol.

Destaquei as duas frases acima que nos dão alguma informação relativamente à evolução. Estas foram também incluídas num estado sobre o nível de aceitação dos paradigmas científicos nos Estados Unidos mas – e isto é de particular importância para entender o que os dados de Miller nos dizem sobre Portugal – no estudo americano estes surgem juntamente com um terceiro, mais forte:
“Os seres humanos foram criados por Deus como pessoas completas e não evoluíram de formas de vida mais antigas” 

Vamos assim olhar para estas três informações e reflectir acerca do que as diferentes respostas nos podem dizer sobre o que os respondentes sabem e acreditam

- A afirmação “Os primeiros seres humanos viveram no mesmo período que os dinossauros” é falsa. Mas para responder corretamente não chega ter conhecimento que o processo de evolução tem lugar, é ainda necessário conhecer a história natural da Terra o suficiente para saber que a espécie humana apenas surgiu depois da extinção dos dinossauros.
 - A afirmação “Os seres humanos, tal como os conhecemos, desenvolveram-se a partir de outras espécies mais antigasé verdadeira. As razões mais prováveis para afirmar ser falsa serão acreditar que os humanos são especiais e assim não relacionados com outras espécies (ideologia) ou não ter a mínima ideia de como as espécies evoluíram (ignorância).
Mas a única afirmação que permite distinguir ideologia de ignorância é “Os seres humanos foram criados por Deus como pessoas completas e não evoluíram de formas de vida mais antigas”, mas aos respondentes portugueses não foi pedido que comentassem esta afirmação.  

No estudo europeu estas frases foram usadas para medir o nível de conhecimentos em ciência e tecnologia - não para medir aceitação da teoria da evolução. E Portugal surgiu como um dos países com menor nível de conhecimento científico, como este mapa do Relatório do Eurobarómetro evidencia (a cor cinzenta representa a categoria mais baixa, 0-20% de respondentes com conhecimento científico muito bom).

E assim, onde levará tudo isto? Vou argumentar que com base neste conjunto de dados é de facto impossível separar ideologia de ignorância na explicação para a relativamente reduzida crença na teoria da evolução em Portugal. Mais, diria que há de facto alguma indicação de que é ignorância e não ideologia que explica porque Portugal fica numa posição tão baixa na escala de aceitação da teoria da evolução.

Baseio este argumento numa abordagem diferente dos mesmos dados. Num artigo de Cosima Rughini de 2011 encontrei o pormenor importante que me faltava no artigo de Miller. Com base nas respostas perante a afirmação Os seres humanos, tal como os conhecemos, desenvolveram-se a partir de outras espécies mais antigas, foi feito o ranking de 33 países em termos de aceitação da evolução. Se este ranking for feito com base na percentagem de respostas corretas (que a afirmação é verdadeira), Portugal ocupa um modesto 18º lugar entre 33. Mas, se o ranking for feito com base na percentagem de respostas incorretas (que a afirmação é falsa), Portugal sobe até um confortável 10º lugar, com uma percentagem menor de respostas erradas do que Alemanha, Países Baixos e Suiça. Isto é porque os portugueses respondem "Não sei" proporcionalmente com mais frequência. 

E será que isto importa? Provavelmente, sim. A razão pela qual Jerry Coyne escreveu este livro foi que achou que se as pessoas ficavam a conhecer a evidência convincente da teoria da evolução passarão a ser convencidas da sua veracidade. Como disse na sua palestra na Serralves, ele acabou por perceber que isto não é suficiente, pelo menos nos Estados Unidos de onde é oriundo: as pessoas também precisam de ser menos religiosas.

Mas se em Portugal o principal problema é o conhecimento e entendimento muito limitado da ciência (e não sendo a Igreja no geral avessa à ciência ou a explicações científicas), então será mais importante disseminar o conhecimento do que será combater a religião.

Contudo, pessoas como os autores deste blog não parecem ser as mais adequadas para este trabalho, pelo menos a acreditar no Eurobarómetro…


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O lobo, o sangue e as crianças




"Medo que o lobo ataque novamente" diz a letra abaixo da imagem, que causou surpresa, consternação e alguns protestos a semana passada. A reportagem saiu no jornal local da região sul da Suécia (do qual sou natural) e mostra os cadáveres de alguma das cerca de 30 ovelhas mortas por um provável ataque de lobo. Confesso que a notícia me deixou completamente surpreendida. O lugar onde aconteceu é uma das áreas mais densamente povoadas da Suécia, a apenas 40 quilómetros da terceira cidade do país e numa plena zona agrícola. Consciente do risco de argumentação NIMBY (Not In My Backyard), a minha consternação tem sobretudo a ver com esta infeliz manifestação de biodiversidade da vida selvagem.

Mas essa não foi a única preocupação que a imagem levantou. Diz o editor do jornal que foi contactado por leitores indignados com a decisão do jornal de publicar uma imagem tão sangrenta. O formato do jornal é do habitual tablóide e, como podem ver, a imagem ocupa a maior parte das duas páginas, pelo que o impacto deve ter sido considerável para quem lê a versão em papel.

O editor defende a sua decisão: o jornal é publicado numa zona fortemente agrícola, onde a maioria dos habitantes come carne e muitos vivem da produção animal, e “escrever sobre o lobo sem mostrar os resultados da sua atividade seria fechar os olhos à verdade”.  

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pós-graduação Bem-Estar Animal - ISPA

Estão abertas as inscrições para a terceira edição do Curso de Pós-graduação de Comportamento e Bem-Estar Animal no ISPA (Lisboa). Este curso destina-se a todos aqueles que, directa ou indirectamente, lidam com animais na sua actividade profissional e se preocupam com os efeitos das suas acções sobre esses mesmos animais. A formação permite ao aluno desenvolver competências específicas para a sua área de actuação. Daí as edições anteriores terem contado com a participação de profissionais tão diversos como biólogos, sociólogos, psicólogos, médicos veterinários, enfermeiros veterinários, cinotécnicos, etc.


Aceitam-se inscrições até dia 4 de Janeiro de 2013.
Para mais informações visite o site do curso e a brochura do mesmo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Beyond animal rights: Crítica de livro


Esta crítica do livro Beyond Animal Rights: food, pets and ethics, Tony Milligan; Continuum International Publishing, foi originalmente publicada na revista Animal Welfare.
 
Este livro propõe como tema a ideia do vegetarianismo estar longe de ser moralmente perfeito, e de como isso não serve como uma desculpa para a maior parte de carne que a maioria de nós come. Assim vale a pena ler, seja qual for a dieta preferencial de cada leitor - e quem preferir uma versão curta da crítica deste livro, pode parar de ler por aqui. Mas neste caso, leia o livro (ou pelo menos os seus primeiros cinco capítulos).

Tom Milligan é Honorary Research Fellow em Filosofia na Universidade de Aberdeen, e esta a sua reflexão sobre o consumo de carne é publicada na série “Think Now” (da editora Continuum)  de “livros acessíveis que examinam problemas-chave da sociedade contemporânea de um ponto de vista filosófico”. De facto, o livro de Milligan encaixa perfeitamente nesta descrição; a sua escrita clara e bem fundamentada proporciona uma leitura agradável e intelectualmente estimulante. 

A problemática da ética animal ocupa uma posição central, mas não é a única perspectiva considerada. Sendo ele próprio vegan, Milligan não considera a perspectiva padrão dos direitos dos animais como a única relevante para uma escolha moralmente guiada das nossas opções alimentares. O seu conceito da alimentação reflecte a abrangência da sua análise: “it involves things of the following sort: enjoyment in and through food, nutritional appropriateness given the condition that we are in; a degree of honesty about what we are eating; some rudimentary knowledge about how our food was produced; eating in a way that enriches our relations with other humans (e.g. it should not involves habitual solitary consumption); eating in a way that is consistent with our values and/or expresses those values; having values that are themselves of a reasonable and defensible sort; eating in a way that involves a practical awareness of the importance of other humans, other creatures and our shared environment” (página 20)

Dos cinco capítulos dedicados ao consumo de carne, o primeiro de todos, “The Depth of Meat-Eating”, oferece um olhar geral e serve de introdução ao tópico. No capítulo 2, “An Unwritten Contract”, explora a ideia de que a agro-pecuária e o consumo de carne oferecem um bom “contrato” aos animais, como grupo, na medida em que lhes permitiu que prosperassem, em número. Por um lado, é um fraco negócio para os animais que pagam pela protecção e alimento com a sua morte precoce, e que por vezes é precedida por uma vida que não vale a pena ser vivida. Por outro lado, em condições que proporcionam uma vida que valha a pena ser vivida, o argumento de que de outro modo estes animais não teriam sequer existido é muito forte. Isto deixa-nos com uma situação “in which rival considerations can be balanced up against each other but no single consideration obviously trumps the others. On the one hand, the opportunity of life argument does real work (...) to give some justification for ethically informed meat-eating. It is the means by which animals come into existence and enjoy some approximation to a good, if short, life. (...) Ethical vegetarianism, on the other hand, might better save the interests of already existing creatures” (página 40)

"Vegetarianism and Puritanism" (Capítulo 3) analisa a possibilidade de que a recusa ao consumo de carne possa ser motivada por algum tipo de puritanismo. Isto não só inclui a ideia de abandonar algo potencialmente desfrutável (este não parece ser o caso para a maioria dos vegetarianos e vegans), de não ingerir algo “sujo” ou alguma maneira prejudicial ao corpo (historicamente verdadeiro; até certo ponto também presente nas motivações contemporâneas), bem como a ideia de manter as mãos limpas do sangue derramado pelo abate dos animais, o que é parcialmente verdade, ainda que “there will always be a blood price to pay for a harvest. The numbers of animals inadvertently killed through harvesting can be reduced with caution (...) but the taking of animal lives cannot be avoided. Recognition of this is a matter of acknowledging that the presence of we humans as part of our planetary eco-system is always, to some extent, at the expense of other creatures. And this is one of the many things that vegetarians, vegans and carnivors have in common” (páginas 62-63).

O capítulo 4, "Diet and Sustainability", foca-se nos aspectos ambientais das diferentes aspectos que envolvem as diferentes opções alimentares. Milligan considera que a produção de carne actual deixa uma pegada ecológica inaceitável, mas também que há terreno que só pode contribuir para a alimentação humana atraves de produção de carne e leite de animais de pastoreio. Tendo em consideração todos os factores (tanto quanto a complexidade do problema o possibilita), Milligan admite que uma dieta contendo pequenas quantidades de carne de origem local e produzida com respeito pelo ambiente, poderá ser tão ou mais sustentável que uma dieta vegetariana. Mas de imediato observa não ser esta a dieta típica de um consumidor de carne, e que “(t)here is just as much danger that the sheer possibility of an eco-friendly carnivorous diet may be used as a stalking horse to provide dubious justification for widespread carnivorous practices that are not nearly as eco-friendly as their practitioners may assume” (página 84). O valor ecológico do consumo limitado de carne, é a razão pela qual o veganismo, como opção universal, poderá ser "The Impossible Scenario" (Capítulo 5), mas que um vegetarianismo universal, que permita alguma produção animal, poderá ser mais exequível. 

Apesar da capa nos mostrar o processo de triagem de salmão (selvagem?) capturado em Vancouver, o livro é na realidade centrado na alimentação humana através da produção agro-pecuária. Millingan faz um trabalho excelente na análise desta actividade, tendo em consideração uma grande diversidade de factores. Infelizmente, os capítulos 6 e 7 (sobre a posse de animais de estimação e experimentação animal) não estão ao mesmo nível do resto do livro e, dado estes temas estarem apenas indirectamente ligados ao tema principal, não fica de todo claro por que razão foram incluídos. A sua omissão numa futura edição tornaria este livro uma pequena mas brilhante discussão do consumo de carne que poderia ser uma leitura obrigatória para todos os estudantes universitários em cursos ligados à produção animal. 

Traduzido do inglês por Nuno Franco.