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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Produção pecuária e bem-estar animal: contrários ou complementares?


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16 comentários:

  1. Correu bem na minha ótica. Foi equílibrado e sobretudo muito baseado em informação factual, correta e embora em alguns casos um pouco simplificada sempre sem enviasamento considerável.

    Onde gostaria de ter aprofundado mais para poder desafiar uma tendencia de simplificar e de 'consensualizar' era na questão de bem-estar e produtividade. Ficou-se com a ideia que a promoção de bem-estar animal está sempre no interesse do produtor porque resulta sempre em melhores resultados. A representante da União Zoofila e o representante da CAP estavam muito de acordo sobre este ponto, e como surgiram depois outras questões eu acabei por não desafiar a posição. Espero poder faze-lo num forum de debate associado ao site da Ciência 2.0 quando a gravação for colocada lá.

    Esta questão é muito semelhante à que temos vindo a discutir com Leonor Galhardo em relação aos trabalhos dos alunos do ISPA, e tem bastante que se diga.

    Há um certo interesse em apresentar as coisas desta maneira inicialmente. Não me parece boa ideia começar a vender a ideia de bem-estar animal como algo que fica caro e que complica a vida. Inicialmente, quando se parte de uma situação bastante má, com problemas de saúde e falhas na alimentação, melhoramento de bem-estar animal e aumento da produção irão de mãos dadas.

    Também andam mais de mãos dados em determinados setores. Neste sentido, é importante lembrar que o representante da CAP tem a sua "origem agrícloa" na produção de leite na zona entre Douro e Minho. No que diz respeito a instalações que respeitam o bem-estar e comportamento natural dos animais. penso que as boas e modernas vacarias nesta zona estão dentro do melhor que encontramos em Portugal na produção intensiva. São instalações de estabulação livre onde os animais têm boa liberdade de movimento, as condições climaticas permitem que as instalações sejam semi-abertas garantindo boa qualidade de ar e iluminação, e a atual prática e as necessidades alimentares das vacas em produção faz com que estes tenham acesso práticamente livre a alimentação. Mais, o produtor é castigado com mais problemas não só para os animais como para si próprio se não garante espaço suficiente para os animais circularem bem nos corredores e para cada vaca descansar deitada e comer livremente. Assim sendo, há muitos pontos em que a preocupação com o bem-estar animal traz um retorno direto.

    A discussão teria sido outra se fossemos pelo controverso caso das galinhas poedeiras. Não tenho a menor duvida que as novas gaiolas com poleiro, ninho e caixa com cama sejam melhor para os animais. Embora o espaço não é muito maior estas gaiolas fornecem recursos importantes para o comportamento natural e recursos que são valorizados pelas galinhas. Mas uma galinha põe quase um ovo por dia seja nas gaiolas não melhoradas seja nas melhoradas. Como as melhoradas ocupam mais espaço, a conversão não vai ter retorno económico positivo para o produtor, que vai ser obrigado a reduzir o nº de galinhas (e consequentemente o nº de ovos produzidos) em gada pavilhão.

    Por isso, por muito que queiramos, não tudo é win-win.

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    1. Obrigado, Anna.

      Não sei se concorde contigo em relação à galinha poedeira. Não pretendo defender que todas as melhorias em termos de bem estar resultam em benefícios para o produtor. Mas mesmo no caso das galinhas poedeiras, em que há diminuição da quantidade produzida por volume, existem contrapartidas (indirectas, talvez): por um lado há o potencial de atrair consumidores que de outra forma seriam relutantes em comer ovos de gaiola e, por outro, há o potencial de melhorar a qualidade do ovo com a diminuição da densidade (sendo que a literatura científica é ainda cautelosa em relação a este aspecto).

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    2. Sim, é para mim um claro exemplo em que para não haver um efeito negativo na economia do produtor tem que haver uma contrapartida de subida de preço. Os produtores que mudam de sistema para poder oferecer uma alternativa, captar um nicho do mercado, podem aspirar a esta contrapartida. Tenho bastante mais duvidas se a mudança agora imposta por lei será seguida por uma subida de preço. Isto implicaria que todos os ovos ficariam mais caros. Não há exemplo disto acontecer, e duvido fortemente se vai acontecer.

      No que diz respeito a melhor qualidade dos ovos, ficaria feliz se finalmente tivéssemos dados científicos a mostrar que melhor bem-estar faz produtos melhores em termos de sabor e nutrição.

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  2. Acrescento que a filme que tinha sido preparado pela equipa do Ciência 2.0 estava excelente. E trazia imagens de que me parecia ser boas vacarias, já agora, para referir ao meu ponto anterior.

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  3. Fiquei acima de tudo surpreso com o grau de convergência das ideias dos três participantes. Isto reflecte sem dúvida o facto de haver várias vantagens no melhoramento das condições de bem-estar dos animais de produção, as quais são reconhecidas por produtores, consumidores, investigadores e amigos dos animais. Mas, como a Anna referiu, o melhoramento da produção é mais significativo quando melhoramos condições iniciais muito más.

    Gostaria que se tivesse desmistificado mais o conceito de que podemos usar a produtividade como parâmetro de excelência para medir bem-estar, pois se é evidente que um animal que não esteja de boa saúde não irá produzir satisfatoriamente, já o inverso não será necessariamente verdade. Ter animais com elevada produtividade não significa que os mesmos estejam bem. Isso foi mais ou menos aflorado quando se referiu a situação da longevidade das vacas leiteiras, que em Portugal é bastante inferior à de outros países europeus de referência.

    Na verdade, o debate centrou-se muito na criação de bovinos, e de leite em particular, mas foi dado também algum tempo de antena à questão das galinhas poedeiras em baterias.

    Foi bem vincada pelos três participantes a importância da regulação do mercado e das escolhas dos consumidores na promoção do bem-estar animal, mas também do papel central das cadeias de distribuição e da regulamentação do sector.

    Ficaram muitos temas por explorar - algo impossível numa hora - mas foi sem dúvida um debate equilibrado, objectivo, e interessante.

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  4. É curioso que, autalmente, seja mais fácil a um defensor dos direitos dos animais saber o que consumir do que a um defensor do bem-estar animal. Tirando o caso dos ovos e algumas carnes embaladas, é impossível ter uma ideia do nível de bem-estar dos animais que deram origem aos produtos que compramos. O setor pecuário poderia de deveria apostar em rótulos com informação o bem-estar dos animais.

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    1. É verdade que se torna mais fácil de escolher para quem decide não consumir produtos de origem animal do que para aqueles que querem fazer um consumo responsável. A questão dos rótulos de bem-estar é antiga e compete com outros sistemas de rotulagem (comércio justo, sustentabilidade ambiental, produção orgânica, etc). Ter demasiados rótulos pode confundir, mais do que ajudar, o consumidor. Por isso é preciso garantir uma rotulagem eficaz.

      A certificação em termos de bem estar vem a caminho, embora a maior dificuldade tenha a ver com a standardização das variáveis a medir (e do valor a dar a essas variáveis). Como se percebe pelos comentários anteriores, a situação não é branca e preta, isto é, não é por ser produção extensiva que o bem-estar é bom e intensiva mau. É mais complexo do que isso e por isso um sistema eficaz de certificação (e rotulagem) deve ser capaz de privilegiar os efeitos do sistema de produção nos próprios animais (ausência de lesões e doenças, ausência de conspurcação, mortalidade, comportamento social, acesso a água e alimento, etc) sobre os níveis de produção ou mesmo as condições existentes à partida. Nem boa produção, nem boas instalações são garantia de bem-estar.

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    2. Olhando para as embalagens de carne presentes nos super e hipermercados, não encontro nenhum desses rótulos (talvez exista o da produção orgânica, eu não vi com muita atenção). O do comércio justo aparece em chá e cafés, produtos produzidos em países em vias de desenvolvimento. Para a sustentabilidade ambiental acho que não há um standard, eu pelo menos não encontro. Acho que os únicos rótulos que as embalagens de carne e leite poderiam levar seriam o da produção orgânica/biológica e o do bem-estar. Actualmente, a maior parte não leva nenhum.

      Percebo perfeitamente o problema da standardização. Talvez seja impossível chegar a um rótulo que nos dê informação real sobre o bem-estar daquele animal em particular, mas podemos ter rótulos relativos a boas práticas de criação e abate. Apesar de não serem garantias de bem-estar, são pelo menos indicadores e já permitem ao consumidor incentivar práticas associadas a um maior bem-estar e desincentivar práticas associadas a menor bem-estar.

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  5. O consumidor português (ao contrário do britânico, p.e.) é pouco atento à origem dos produtos animais que consome. Haverá razões culturais e económicas para isso mas penso que a principal razão é a de que confia na segurança e qualidade dos produtos de origem animal que consome (nós não tivemos uma crise da BSE ou da febre aftosa, como o Reino Unido teve). Mas isto também faz de nós consumidores menos exigentes. Como consequência, produtos diferenciadores (orgânicos, autóctones, sustentáveis) têm menos poder de penetração do que noutros mercados. E é assim que - como já referi anteriormente - produtores nacionais de porco preto vão à falência (ver "Pecuária Tradicional: o valor dos nossos recursos naturais").

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  6. E para quando um debate sobre este tema em Lisboa?

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    1. Estamos a dispor para colaborar com um organizador local!

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    2. Eu sou estudante, mas se alguma vez existir um debate destes na região eu vou. Até porque estou a tirar o curso de Eng. Zootécnica e para mim tem o maior interesse.

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  7. E porque não juntar-se a alguns colegas e propor que a vossa associação de estudantes organizam? O tema é extremamente pertinente para a vossa profissão, seja para quem defende maior preocupação com bem-estar animal, seja para quem acha que há regras a mais. Podem contar com a nossa ajuda em pensar a agenda, propor oradores etc. Contacte-nos por e-mail para falarmosm mais.

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  8. No fundo desta pagina:
    http://animalogos.blogspot.pt/p/autores.html

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