Recentemente, activistas pró-direitos dos animais nos Estados Unidos têm usado leis como o Freedom of Information Act (FOIA), bem como leis estatais - que determinam que dados sobre as experiências em animais conduzidas nas universidades e outros organismos públicos deverão ser fornecidas por estas a quem as solicitar - como base de fundamentação a ataques dirigidos a cientistas que conduzem experimentação animal no ramo da biomedicina. Estas leis, que promovem livre acesso à informação sobre investigação científica, trazem, em princípio, algo de bastante positivo, mas levantam algumas questões (não relativas a patentes e propriedade intelectual, cujos interesses salvaguarda), como por exemplo o facto de informação não revista no sistema de peer-review possa ser acedida, escrutinada e descontextuadamente tornada pública, por público não-cientista. A falta de formação específica na área e das convicções individuais (ou colectivas, de grupos extremistas) resultem em má interpretação ou uso deliberadamente abusivo dessa informação.
Uma das consequências mais preocupantes deste uso abusivo tem sido a mudança de alvo destes grupos terroristas, que passaram de atacar biotérios e instituições a concentrar os seus ataques a cientistas, e mesmo às suas famílias.
Em resposta a este problema, foi criada uma lista de linhas de acção a tomar por cientistas dos Estados Unidos sempre que requisitados a fornecer informação ao abrigo do FOIA, mas temo que, para a maior parte desses cientistas que trabalham com animais, a vontade de comunicar ao público informação relativa ao seu trabalho seja mínima, por medo dessas interpretações enviesadas e/ou de reacções injustificáveis.
Ainda na semana passada tive a oportunidade de falar num debate com cientistas que trabalham com animais no IGC sobre o facto das posições "anti" e "pró" experimentação animal se terem extremado a um ponto que tornava o diálogo muito difícil, e que deveria partir de nós fazer o que estivesse ao nosso alcance para, com assertividade, clareza, verdade e isenção, informar o público não científico do nosso trabalho e suas implicações. Mas se calhar assumo essa postura porque tenho a sorte de não trabalhar num país onde há grupos onde a ignorância, arrogância, irracionalidade e a violência são os principais factores de identidade e acção, como acontece nos EUA.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010
As novas práticas (criminosas) dos movimentos extremistas anti-vivissecção
Etiquetas:
animais na comunicação social,
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1 comentário:
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Interessante que levantas este tema hoje, porque como sábado é o Dia Internacional do Animal de Laboratório passei hoje 40 minutos ao telefone com uma jornalista da Lusa sobre a questão de experimentação animal em Portugal. Estou com alguma curiosidade sobre o que vai sair dai. Falei com bastante sinceridade tanto de problemas como dos grandes avanços que têm ocorrido cá durante a década que tenho tido a oportunidade de observar. Acredito que Lusa tem mais interesse em factos do que em escândalos, mas não deixo de ter sempre um pé atrás quando falo com jornalistas sobre um assunto tão controverso. É um equilíbrio delicado - e é a mesma coisa quando se dialoga com "opositores".
ResponderEliminarTenho muita coisa a dizer sobre a questão de dialogo, e os diferentes papeis que se pode ter como cientista. Sinto me bastante desconfortável com o cientista no lugar de lobbyista; assenta mal com a ideia de analise critica e procura de factos. No entanto, em debate com opositores com representações distorcidas da realidade, é dificil de encontrar um papel equilibrado.
Nos países onde o debate é mais crispado, existem associações de lobbying de ambos os lados. Do lado pro-research destaco Americans for Medical Progress e Understanding Animal Research (Reinho Unido). Mas a existência destas associações não tira a responsabilidade de todos de participar no debate.
Pessoalmente acho que estamos numa altura em Portugal em que se agora formos abertos e transparentes pode ser que assim possamos continuar. Não temos posições extremadas. Claro que para manter as coisas assim é importante que os cientistas não tenham medo de aparecer, e que apareçam com credibilidade.
Que o debate está a crescer, está. Já tive 4 convites este ano a participar em debates e mesas-redondas.