Joana Vasconcelos
Passerelle (2005)
Cães em faiança, ferro metalizado e cromado, motor, quadro de comando e protecção, pedal e PVC
230 x 366 x 205 cm
Colecção da Artista
Exposição "Sem Rede"
Museu Berardo, 01/03 - 18/05/2010
Passerelle (2005)
Cães em faiança, ferro metalizado e cromado, motor, quadro de comando e protecção, pedal e PVC
230 x 366 x 205 cm
Colecção da Artista
Exposição "Sem Rede"
Museu Berardo, 01/03 - 18/05/2010
Não é possível ficar-se indiferente à obra da artista plástica Joana Vasconcelos (n. 1971, Paris). As sua peças são feitas para nos desafiar, recorrendo a três mecanismos principais: a sobre-dimensão, a transmutação do contexto funcional dos materiais utilizados e o convite à interacção directa com o público.
Em Passerelle (2005), somos convidados - através de um pedal à nossa disposição - a desencadear um mecanismo giratório que suspende cães em faiança presos pelo pescoço por grossas coleiras de couro. Ao aceitar fazê-lo estamos a contribuir para o processo criativo - e ao mesmo tempo destrutivo - que justifica a própria obra. Quando, em Maio último, visitei a exposição "Sem Rede" no Museu Berardo eram já mais os cacos que jaziam no chão do que os animais suspensos na engrenagem. Só havia dois cães inteiros; todos os outros se apresentavam mais ou menos quebrados.
Passerelle abre-se a interpretações várias, nomeadamente no que diz respeito à nossa relação com os animais e ao uso que deles fazemos. A homologia existente entre o mecanismo giratório e a linha de abate de um matadouro é evidente. Não se tratam, no entanto, de galinhas mas de antes de imagens esteriotipadas de cães de raças populares como o Dálmata, o Collie ou o Boxer. São portanto ícones, que representam mais do que as suas raças e mais do que a espécie canina da mesma forma que uma modelo numa passerelle é a representação iconográfica da beleza feminina.
O facto de caber ao visitante a opção de fazer desencadear o mecanismo remete-nos para a responsabilidade inerente às decisões quotidianas que envolvem o uso de animais. Os cacos que se vão amontoando na base da peça impelem o público a confrontrar-se com as consequências das suas acções. Podemos não ter o hábito de comer cães, é certo, mas não deixamos de lhes produzir dano de inúmeras formas.
Talvez nada disto tenha motivado a artista. Mas a riqueza de uma obra de arte está na multiplicidade de interpretações que permite.
Em Passerelle (2005), somos convidados - através de um pedal à nossa disposição - a desencadear um mecanismo giratório que suspende cães em faiança presos pelo pescoço por grossas coleiras de couro. Ao aceitar fazê-lo estamos a contribuir para o processo criativo - e ao mesmo tempo destrutivo - que justifica a própria obra. Quando, em Maio último, visitei a exposição "Sem Rede" no Museu Berardo eram já mais os cacos que jaziam no chão do que os animais suspensos na engrenagem. Só havia dois cães inteiros; todos os outros se apresentavam mais ou menos quebrados.
Passerelle abre-se a interpretações várias, nomeadamente no que diz respeito à nossa relação com os animais e ao uso que deles fazemos. A homologia existente entre o mecanismo giratório e a linha de abate de um matadouro é evidente. Não se tratam, no entanto, de galinhas mas de antes de imagens esteriotipadas de cães de raças populares como o Dálmata, o Collie ou o Boxer. São portanto ícones, que representam mais do que as suas raças e mais do que a espécie canina da mesma forma que uma modelo numa passerelle é a representação iconográfica da beleza feminina.
O facto de caber ao visitante a opção de fazer desencadear o mecanismo remete-nos para a responsabilidade inerente às decisões quotidianas que envolvem o uso de animais. Os cacos que se vão amontoando na base da peça impelem o público a confrontrar-se com as consequências das suas acções. Podemos não ter o hábito de comer cães, é certo, mas não deixamos de lhes produzir dano de inúmeras formas.
Talvez nada disto tenha motivado a artista. Mas a riqueza de uma obra de arte está na multiplicidade de interpretações que permite.
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