A epidemia de obesidade alastrou seriamente para os nossos amigos de quatro patas. Estudos levados a cabo nos EUA, Austrália e em vários países europeus mostram os mesmos resultados: este é um sério e crescente problema para cães e gatos.
No início de 2010 passei alguns dias com um dos principais investigadores em obesidade animal, Dr Alex German da Escola Veterinária de Liverpool. Eramos ambos peritos convidados por parte de um projecto em que investigadores do Royal Veterinary College, de Londres, procuravam identificar problemas de bem-estar em animais de estimação. Eu tinha, portanto, uma óptima oportunidade para ouvir falar no problema e saber o que a comunidade veterinária tenta fazer sobre ele.
É díficil quantificar exactamente a extensão da obesidade em cães e gatos. Com os seus diferentes tamanhos e formas, não é possível encaixar os animais numa única fórmula de obesidade. No entanto, os investigadores têm concebido métodos para medir a gordura animal. Segundo Alex German, cerca de 40% dos cães no Reino Unido têm excesso de peso e cerca de um em cada dez está com sobrepeso num grau que representa uma séria ameaça à sua saúde.
É um problema para os animais. Felizmente ser gordo não parece influenciar a sua auto-estima. Mas influencía a sua saúde. Cães e gatos obesos são afectados por doenças do estilo de vida, tais como diabetes e doenças cardiovasculares com a consequência de que morrem muito mais cedo do que o esperado. E antes de chegar tão longe, a obesidade afecta a saúde e qualidade de vida. Alex German acredita que os cães com sobrepeso e obesos levam vidas menos activas do que os seus semelhantes delgados.
É, obviamente, também um problema para seus donos que os animais sejam inativos e venham, eventualmente, a adoecer e a morrer prematuramente. Neste contexto, pode-se perguntar por que é que as pessoas não se limitam a dar ao seu cão ou gato um pouco menos de comer. É compreensível que possamos lutar para controlar a nossa própria alimentação quando temos de resistir às muitas tentações calóricas que enfrentamos diariamente. Mas os cães e gatos não comem nada, a não ser o que lhes servimos!
O problema com esse argumento de senso comum é que ele ignora completamente o tipo de relacionamento que muitas pessoas têm com os seus animais. Enquanto no passado os animais eram mantidos para ser usados num qualquer propósito, a manutenção de cães e gatos tornou-se numa espécie de simbiose entre animal e dono. O termo de animal de companhia acresce ao termo animal de estimação o facto de cães e gatos funcionarem como membros da família.
Investigadores falam de "ligação" entre humanos e animais - isto é, laços estreitos entre o cão ou gato da família e o seu dono. Isto significa que há uma relação de interdependência entre seres humanos e animais. Mesmo se uma parte é legalmente proprietária e a outra propriedade, o relacionamento dá-se ao nível emocional, que é muito mais complexo do que isto. A relação entre proprietário e animal pode, de muitas maneiras, ser comparada à relação entre pai e filho.
Essa semelhança é de certa forma confirmada pela crescente pesquisa em obesidade veterinária. Da mesma forma que se sabe que a obesidade em crianças está muitas vezes relacionada com a obesidade dos pais, verifica-se também que há mais cães obesos entre pessoas obesas do que entre magras. E assim como está bem documentado que os pais de crianças com sobrepeso muitas vezes não reconhecem esse excesso de peso, estudos recentemente publicados mostram que os proprietários de cães e gatos obesos, muitas vezes não conseguem ver que os seus animais são muito gordos.
Assim como as refeições são um campo onde crianças e os pais combatem uma grande parte das lutas de poder familiar, a alimentação e a distribuição de doces é um eixo importante na interacção entre animal e dono. Este último usa frequentemente o animal para prestar cuidados e para receber o que é percepcionado como um sinal de afectuoso reconhecimento. Inconscientemente, o proprietário pode vir a treinar o animal para pedir comida e mostrar sinais de alegria quando é alimentado. Imediatamente há uma situação de duplo ganho em que o proprietário é reconfortado e o animal recebe algo de comer.
Estas percepções são importantes se se quiser tentar aliviar o problema da obesidade em cães e gatos. Na Faculdade de Medicina Veterinária de Liverpool abriu a primeira cliníca de obesidade para cães e gatos na Europa, liderada por Alex German. Pretende-se atacar o problema da obesidade pela raíz, nomadamente na interacção entre dono e animal.Veja www.pet-slimmers.com.
Quando dono e animal aparecem juntamente na clínica, o animal é submetido a um exame clínico completo, e faz-se uma medição precisa da quantidade de gordura existente no seu corpo recorrendo a um scanner especial. O dono pode, assim, quantificar o quão gordo o seu cão ou gato é. Esta quantificação é importante para impelir o proprietário a enfrentar o problema. Como mencionado acima, os proprietários de cães e gatos obesos, muitas vezes não percebem que os seus animais têm pretuberâncias nos lugares errados.
Na primeira consulta é feito um plano do que o animal pode comer e como deve ser exercitado. Mas este não é o fim do tratamento. O proprietário retorna periodicamente à clínica de obesidade para pesar o seu animal. Esta é a mesma estratégia usada em pessoas obesas que estão a perder peso. Mesmo com a maior força de vontade isso não é possível sozinho: é preciso alguém em que se apoiar.
Se o proprietário não voltasse à clínica para ser responsabilizado, ele iria sucumbir aos olhos suplicantes do cão e às persistentes tentativas do gato em saciar-se. Ao mesmo tempo, por causa da íntima ligação com o cão ou gato, o proprietário muitas vezes não é capaz de corrigir a alimentação do animal, sem ter de lidar com seus próprios hábitos alimentares - o que sabemos ser difícil.
Um cão ou gato obeso será normalmente sujeito a uma dieta especial. A venda de alimentos dietéticos é já um grande negócio para as empresas de alimentação e para veterinários. Neste contexto não é de surpreender que a clínica de emagrecimento em Liverpool, a "Royal Canin Weight Management Clinic", seja patrocinada por uma das principais empresas de alimentação animal.
Pode-se pensar ser oportunismo ganhar dinheiro com a venda de dietas especiais para cães e gatos quando o problema poderia ser resolvido se as pessoas apenas dessem aos seus animais um pouco menos da alimentação regular. Mas isso seria, em certo sentido, negligenciar o ponto crucial: não é o cão ou gato, mas o proprietário quem está a fazer dieta. E ter que reduzir a quantidade de alimento que se dá ao muito amado cão ou gato é deveras difícil. Então é melhor servir uma dieta cara com teor calórico reduzido em porções de tamanho usual.
Você não quer diminuir o amor que nutre pelo seu melhor amigo.
Peter Sandoe
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sexta-feira, 22 de julho de 2011
3 comentários:
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A AVMA (American Veterinary Medical Association) tem um curto vídeo para prevenção da obesidade em cães e gatos:
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/AmerVetMedAssn#p/u/0/w8mbNjpZuNM
Interessante neste vídeo é o conceito de enriquecimento ambiental no ambiente doméstico como medida preventiva.
Soube recentemente que no Reino Unido, em 2007, dois irmãos foram acusados de crueldade por terem deixado a sua cadela labrador chegar aos 70 kgs:
ResponderEliminarhttp://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/england/cambridgeshire/6281001.stm
Pode a obesidade ser considerada uma forma de crueldade? Veja o vídeo e tire as suas conclusões.
O video fala por si.
EliminarMais, cães desta raça são propensas a desenvolver artrite, condição agravada por o cão ter peso a mais.
Claro que isto é um emblematico exemplo de conflito entre bem-estar de curto e longo prazo. Os labradores são conhecidos por ter um apetite que não é compatível com saúde ao longo prazo, pelo menos não com o nível de exercicio que o tipico labrador faz.