Um dos meus blogs de eleição em língua portuguesa é o Crítica na Rede. Trata-se de um blog de filosofia, associado à revista digital Crítica, e coordenado pelo filósofo português, radicado no Brasil, Desidério Murcho. Os temas apresentados são muito cativantes e o nível de discussão elevado.
Um recente debate sobre direitos e deveres chamou-me a atenção para este tema, tão caro à ética animal: são os direitos independentes dos deveres? Ou seja, terão os animais direitos tendo em conta que não lhes podemos reconhecer deveres? Se sim, que tipo de direitos têm os animais? Se o tema lhe interessa, veja os comentários gerados.
Uma outra mensagem, O Desafio de Singer, gerou uma animada discussão. Partindo da filosofia moral utilitarista de Peter Singer, questionou-se a existência de alguma característica, filosoficamente relevante, capaz de justificar a diferença de valor moral entre humanos e não humanos. O envolvimento neste tipo de debates, tem-me servido para sistematizar melhor as minhas próprias teorias e confrontá-las com as opiniões de pessoas com um entendimento da condição animal muito diferente do meu.
"Quem não tem deveres não tem direitos" é a classica resposta de quem não gosta de ouvir falar de direitos dos animais e que não se preocupou com muita reflexão filosófica (e um dos meus _pet peeves_ como dizem os ingleses). Contra isto, a discussão na Critica na rede é uma lufada de ar fresco.
ResponderEliminarNo entanto, e como se também vê nesta discussão, dentro da filosofia, o conceito de direito não é unanimo ou uniforme, e facilmente a discussão torna-se muito teórica. E - curiosamente dado o lugar de destaque que Peter Singer têm num debate que muitas vezes é rotulado "direitos dos animais" - na filosofia utilitarista a que pertence o conceito de direito é irrelevante, o que conta são interesses.
Por isso, convem lembrar que direito também é um conceito legal. Fernando Araújo http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=3461 costuma argumentar algo como: pode bem ser que somos nós que temos deveres perante os animais e não eles que têm direitos, mas se atribuimos direitos legais aos animais ganhamos um instrumento legal muito mais forte para os defender.
Interessante e muito difícil, este assunto. Concordo com o que a Anna diz, pois nestas coisas da filosofia nada é objectivo ou definitivo.
ResponderEliminarDei uma vista de olhos no blog "Critica na Rede" e gostei, de uma forma geral, dos temas. Não me considero uma pessoa filosófica, mas confesso que o blog tem alguns assuntos que, quanto mais não seja - e talvez seja essa a sua principal função - me fazem pensar. Até porque, como costumo dizer, só não muda de ideias quem não pensa. Sou mais pragmática, mas procuro muito o equilibrio entre ambos.
E se, de facto, deveres e direitos não podem estar dissociados, esta relação deve ser semelhante a dois pratos de uma balança que não param quietos.
No entanto, imagino que cada espécie tenha criado as suas próprias leis e deveres, aos quais somos alheios (a muitos, pelo menos) e que os saibam gerir.
Estabelecer os deveres dos outros animais. É bom saber que há coisas que não podemos fazer. O que não impede que tenham o direito de serem defendidos por nós, de nós. Os direitos dos animais que defendemos, defendemos contra a nossa própria espécie e contra as atrocidades que cometemos. Os direitos deles são um dos nossos deveres, porque nós assim nos obrigámos.
Quando era miúda costumava fazer-me muita impressão ver um animal morrer à mercê de outro, nos documentários de vida selvagem, sem que o Homem, mesmo ali ao pé, interviésse. Só mais tarde percebi que era assim que devia ser. Porque era a vida, as relações interespecíficas e a selecção natural. Um dever dos observadores em preservar o direito do ciclo da vida.
Esta coisa de nunca nos contentarmos com o que temos é complicada. Seria simples, se fosse só uma questão de alimentação e aquecimento corporal. E também não me parece que haja nada de mal em querer confraternizar com outras espécies. De igual para igual, com o devido respeito. Mas nós não sabemos onde parar. Sempre foi esse o poder da espécie humana, que tanto pode ser altruista como prejudicial.