O Jornal Público tem no seu (renovado) site uma excelente fotorreportagem da manifestação dos produtores de leite europeus à porta da Comissão Europeia em Bruxelas, no passado dia 26 de Novembro. Já aqui abordámos a questão da sustentabilidade do sector leiteiro nacional e europeu quer do ponto de vista do bem-estar animal, quer do ponto de vista da regulamentação do mercado. Numa altura em que as falências no sector se sucedem, o anunciado fim das quotas leiteiras em 2015 e das ajudas directas à produção têm deixado as associações de produtores à beira de um ataque de nervos, ao ponto de regarem com leite os edifícios da Comissão. Na prática, o fim das quotas leiteiras implica a liberalização do mercado: por um lado não são impostos limites à produção de cada país mas, por outro lado, isso representa também uma maior exposição dos membros da UE à concorrência interna e externa. As novas regras europeias de compra e venda de produtos lácteos pretendem substituir o regime de quotas mas têm sido acusadas de favorecerem os países do Centro e Norte da Europa em detrimento dos do Sul.
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Guerra do Leite em Bruxelas
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Novas iniciativas portuguesas na promoção de alternativas à utilização de animais em biomedicina
O tema da experimentação em animais tem vindo a ganhar crescente relevância em Portugal, ainda que esteja longe do nível de controvérsia que se observa noutros países, como o Reino Unido, Suiça ou alguns países escandinavos.
Começam assim a surgir algumas iniciativas para a promoção de alternativas ao uso de animais em biomedicina, com a particularidade de serem da parte de instituições não-académicas, como é a Sociedade Portuguesa para a Educação Humanitária (SPedH) e o Biocant Park.
O primeiro será o workshop “Alternativas à utilização de animais em estudos pré-clinicos”, uma iniciativa do Biocant Park (Cantanhede, Coimbra), e ao abrigo do projecto europeu ShareBiotech, a realizar a 10 de Dezembro.
Segundo a organização, esta workshop parte da identificação deste tipo de iniciativas como uma das necessidades mais prementes, num questionário dirigido a grupos de investigação. O workshop focar-se-á essencialmente na divulgação de abordagens em estudos pré-clinicos sem o uso de animais, sendo uma oportunidade para a indústria, investigadores e clínicos discutirem e traçarem linhas de acção no sentido de desenvolverem potenciais alternativas ao uso de animais nesta área.
Uma outra iniciativa será o International Conference Of Alternatives to Animal Experimentation, organizada pelo SPedH, e que tomará lugar a 26 e 27 de Janeiro de 2013, em Almada. O programa contará com influentes oradores portugueses e estrangeiros nas áreas da filosofia, da investigação biomédica e até da política. Estão também abertos à submissão de abstracts para posters até 30 de Novembro.
Da minha parte, tenho particular curiosidade neste último evento, nomeadamente no que diz respeito ao "tom" de toda a conferência, dado os organizadores se alinharem próximos da perspectiva dos "direitos dos animais", e pela qual se regem também alguns dos principais convidados. Terá contudo também a participação de cientistas com diferentes visões, pelo que poderemos ter um interessante e equilibrado debate.
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Nuno Franco
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Academicos opinativos - entrevista com Mickey Gjerris
Anna Olsson: Olá Mickey Gjerris*. Recentemente, ao embarcar num avião em Copenhaga, peguei por acaso num exemplar de um dos maiores jornais dinamarqueses, e vi publicado um comentário teu sobre bem-estar animal e a indústria agro-pecuária Dinamarquesa. Podias por favor resumir os principais pontos deste comentário aos leitores do Animalogos?
Mickey Gjerris: O ponto de partida da minha carta ao editor foi o questionar da alegação que frequentemente é feita pelo sector agrícola dinamarquês de que são os “campeões mundiais” em bem-estar animal. Isto foi usado para discutir como o bem-estar animal é um conceito complexo e que é entendido de modo distinto por diferentes pessoas. Alegar ser campeão mundial de bem-estar animal é assim um gesto bastante desprovido de significado.
Tendo isto como pano de fundo, prossegui criticando diversos aspectos da indústria pecuária dinamarquesa, mostrando como o bem-estar de animais é sacrificado no altar da produtividade. Finalmente mostrei como outros países europeus têm, nalgumas áreas, padrões mais elevados de bem-estar animal do que a Dinamarca, nomeadamente ao nível de práticas de corte de caudas e castração dos leitões, a oportunidade dada aos bovinos de leite para poderem pastar, etc.
AO: Qual foi a reacção ao teu comentário?
MG: A reacção tem sido um enorme número de e-mails (+50) da parte de pessoas que consideram uma novidade positiva que alguém do mundo académico fale abertamente contra os métodos de produção tipicamente usados. Ademais, o presidente da Organização Dinamarquesa para a Agricultura – uma entidade que reúne produtores e demais partes interessadas da cadeia de produção – publicou uma resposta no mesmo jornal, basicamente dizendo que têm de fazer aquilo que é preciso para competir numa economia aberta, que as coisas não são tão más como se julga (ele não tem no entanto documentação que o comprove) e afirmando que os produtores de gado dinamarqueses amam e respeitam os seus animais.
AO: Que pensas da contribuição de investigadores vindos do mundo académico neste debate? Temos um papel legítimo como fazedores de opinião, ou responsabilidade nesse sentido?
MG: Considero a participação em debates públicos uma parte importante do meu trabalho como eticista. De certa maneira revejo-me na figura do antigo bobo-da-corte, alguém com a função de dizer aquilo que toda a gente já sabe, mas que ninguém quer saber. Para além disso, o meu trabalho é qualificar o debate público e ajudar a desenredar conceitos e ideias complexos de modo a torná-los acessíveis a outros, bem como identificar afirmações erróneas e que tornam o debate demasiadamente simplista. No caso da produção agro-pecuária dinamarquesa ser vista como a ‘campeã do mundo’, eu considerei importante que alguém com conhecimento suficiente questionasse essa crença de modo a tornar o debate público mais informado. Geralmente considero importante que os académicos participem em debates públicos e os tornem mais qualificados. Temos sempre que ter em atenção, porém, a distinção entre o conhecimento que temos como especialistas e as opiniões que advogamos como cidadãos. Isto não é um exercício fácil e por vezes estas duas vertentes são difíceis de dissociar, mas devemos não obstante tentar fazê-lo.
* Mickey Gjerris é professor associado na Universidade de Copenhaga. Com formação inícial em teologia, fez o seu doutoramento em bioética. Hoje desenvolve trabalhos sobre tópicos como alterações climaticas, ética animal, bioética e ética da natureza. É membro do Danish Ethical Council (www.etiskrad.dk), acredita profundamente em tofu fumado, gosta de abraçar arvores e ver as nuvens passar e tem uma relação quase apaixonada com o seu iPhone.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
O pessimista e o seu cão
Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um peculiar filósofo alemão, fundador de uma corrente ético-filosófica denominada pessimismo metafísico. “Viver é sofrer”, dizia ele, e para esta visão não terão sido alheios o suicídio de seu pai quando Arthur tinha 17 anos e a má relação com a mãe, com quem rompe em definitivo aos 26.
A base do pensamento de Shopenhauer é a filosofia kantiana, a qual funde com as escrituras hindus. Foi ele o responsável pela introdução do pensamento oriental (nomeadamente as religiões da Índia, o Hinduísmo e o Budismo) na metafísica alemã. Contemporâneo de Hegel e opositor visceral das suas teorias, envolve-se numa batalha de protagonismo na Universidade de Berlim, da qual sai perdedor. A sua obra maior é O Mundo como Vontade e Representação, publicada nos finais de 1818. Bertrand Russell diz que Shopenhauer dava enorme importância a esta obra, chegando a dizer que alguns parágrafos tinham sido ditados pelo Espírito Santo. Vivendo em permanente litígio com os seus pares, Shopenhauer lamentava-se da miséria da condição humana e considerava os seres humanos cegos de egoísmo. "Não existe felicidade", dizia ele, "porque um desejo irrealizado causa pena e, se atingido, saciedade".
O temperamento de Shopenhauer foi-se tornando progressivamente mais irascível e solipso. Com 45 anos instala-se em Frankfurt e durante os vinte e sete anos que aí viveu, dedicados em exclusivo à reflexão filosófica, levou uma vida solitária, tendo só um cão por companhia. Schopenhauer era amante de cães pois, segundo ele, entre os cães - e contrariamente ao que ocorre entre os homens - a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento. Durante estes anos, Shopenhauer teve uma dinastia de Caniches, sempre de nome Atma, que significa “alma do mundo” em hindu.
A predilecção de Schopenhauer por animais era filosoficamente justificada: ele argumentava que os animais não-humanos possuíam a mesma essência dos humanos, apesar da ausência de razão. Embora não praticasse o vegetarianismo e o considerasse facultativo, defendia que os direitos dos animais deviam fazer parte da reflexão moral. Opunha-se à vivissecção, muito utilizada por pensadores e cientistas da época, e criticou furiosa e demoradamente a ética Kantiana por não incluir os animais no seu sistema moral.
Nietzsche, muito influenciado pelo seu pensamento, apelidava-o de “cavaleiro solitário”. Na sua vida é difícil encontrar provas de virtude, excepto para com os animais. A sua visão da natureza humana era de tal modo pessimista que, quando faleceu a 21 de Setembro de 1860 vitimado por uma pneumonia, deixaria todos os bens ao seu caniche Atma, a alma do mundo.
A base do pensamento de Shopenhauer é a filosofia kantiana, a qual funde com as escrituras hindus. Foi ele o responsável pela introdução do pensamento oriental (nomeadamente as religiões da Índia, o Hinduísmo e o Budismo) na metafísica alemã. Contemporâneo de Hegel e opositor visceral das suas teorias, envolve-se numa batalha de protagonismo na Universidade de Berlim, da qual sai perdedor. A sua obra maior é O Mundo como Vontade e Representação, publicada nos finais de 1818. Bertrand Russell diz que Shopenhauer dava enorme importância a esta obra, chegando a dizer que alguns parágrafos tinham sido ditados pelo Espírito Santo. Vivendo em permanente litígio com os seus pares, Shopenhauer lamentava-se da miséria da condição humana e considerava os seres humanos cegos de egoísmo. "Não existe felicidade", dizia ele, "porque um desejo irrealizado causa pena e, se atingido, saciedade".
O temperamento de Shopenhauer foi-se tornando progressivamente mais irascível e solipso. Com 45 anos instala-se em Frankfurt e durante os vinte e sete anos que aí viveu, dedicados em exclusivo à reflexão filosófica, levou uma vida solitária, tendo só um cão por companhia. Schopenhauer era amante de cães pois, segundo ele, entre os cães - e contrariamente ao que ocorre entre os homens - a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento. Durante estes anos, Shopenhauer teve uma dinastia de Caniches, sempre de nome Atma, que significa “alma do mundo” em hindu.
A predilecção de Schopenhauer por animais era filosoficamente justificada: ele argumentava que os animais não-humanos possuíam a mesma essência dos humanos, apesar da ausência de razão. Embora não praticasse o vegetarianismo e o considerasse facultativo, defendia que os direitos dos animais deviam fazer parte da reflexão moral. Opunha-se à vivissecção, muito utilizada por pensadores e cientistas da época, e criticou furiosa e demoradamente a ética Kantiana por não incluir os animais no seu sistema moral.
Nietzsche, muito influenciado pelo seu pensamento, apelidava-o de “cavaleiro solitário”. Na sua vida é difícil encontrar provas de virtude, excepto para com os animais. A sua visão da natureza humana era de tal modo pessimista que, quando faleceu a 21 de Setembro de 1860 vitimado por uma pneumonia, deixaria todos os bens ao seu caniche Atma, a alma do mundo.
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