A propósito da reportagem desta semana no suplemento P3 do Público sobre o Banco de Sangue Animal (BSA) damos a conhecer esta iniciativa do médico veterinário Rui Ferreira, doutorado em medicina transfusional de cães.
O site do BSA está disponível em Português e Castelhano, e há já uma app para Android para clínicos |
O BSA foi inaugurado em 2011, encontrando-se nas instalações do Hospital Veterinário da Universidade do Porto, sendo o segundo do género em Portugal. Até ao surgimento destes bancos de sangue, as dádivas costumavam ser ad hoc, quando surgia uma necessidade, mas nem sempre isto era possível, pelo que frequentemente se perdiam vidas animais. Hoje o BSA conta com cerca de 500 cães e 300-350 gatos dadores - que em troca têm vacinas e análises gratuitas - sendo já um dos melhores da Europa. Dispõe de um serviço de urgência 24h, e graças a uma rede de clínicas, plasma e outros hemoderivados podem ser disponibilizado no espaço de uma hora em todo o país.
Tal foi o sucesso que Rui Ferreira foi inclusive convidado a criar um banco de sangue similar em na Catalunha, inaugurado no mês passado, exportando ainda para países como Itália, França ou Inglaterra.
Reportagem RTP, de Outubro de 2015
Estima-se que as contribuições destes dadores - que fora o transiente desconforto da picada não sofrem qualquer impacto negativo na sua saúde e bem-estar - permitiram já salvar à volta de 10 mil animais nos últimos cinco anos.
Não posso contudo deixar de fazer uma brevíssima análise ética. No prisma da maior parte das principais correntes da ética animal - como a utilitarista, contractualista, ou relacional - tem este tipo de iniciativas o maior mérito, dadas as vantagens para todos os intervenientes.
Contudo, de um ponto de vista dos direitos dos animais, stricto sensu, não pode ser a dádiva de sangue vista como uma violação da integridade e dignidade dos animais dadores, uma vez que não o fazem por escolha sua, ou com o seu consentimento?
No título deste post - ao qual poderia ter incluído qualquer coisa como "mas o seu animal nem sabe" ou "sem o seu consentimento", caso o propósito fosse denunciar esta prática, que não é o caso - há um antropomorfismo latente, que no artigo do Público é aliás mais manifesto, ao classificar estes animais como "voluntários". É uma antropomorfização descabida aplicar os epítetos de "voluntários" ou "heróis" a estes animais, mas também conceitos como "saber", "consentir", ou mesmo "doador" com o significado que habitualmente têm para os humanos. O próprio conceito de "dignidade" é muitas vezes para mim difícil de definir, quando aplicada aos animais, pois é e será sempre um conceito humano projectado noutras espécies.
Assim sendo, e apesar dos méritos dos bancos de sangue animal serem aparentemente reconhecidos pela generalidade das pessoas, nas quais me incluo, intriga-me o que achará Tom Regan a este respeito, ou os seus seguidores.
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