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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Estudos com animais em destaque nos Prémios (Ig)Nobel 2014

Os prémios Ig Nobel são a grande festa da ciência. Ao contrário do que muitos pensam, não são atribuídos a estudos mal feitos, ridículos ou de pouco interesse científico. Antes celebram o lado divertido da ciência, que frequentemente os próprios investigadores não se apercebem que pode existir nos seus estudos, até que alguém o aponta. 

No ano passado, referimos o destaque dado à ciência de comportamento animal, na forma do IgNobel atribuído a Tolkcamp e colegas pelo seu estudo, que demonstrou que a probabilidade de uma vaca se deitar não aumenta com o tempo que passa em pé.  Este ano, entre outros nobres laureados, os estudos em animais estiveram bem representados, com três estudos que, como é apanágio dos galardoados pelo comité IgNobel, primeiro nos fazem rir, mas depois nos fazem pensar. 

Fonte: Hart et al
O estudo que recebeu o Ignobel da Biologia envolveu milhares de observações realizadas pelo checo Vlastimil Hart e colegas, que demonstraram que, quando os cães fazem as suas necessidades, por vezes se alinham com o campo geomagnético da Terra. Apesar da metodologia usada ter sido hilariante, se pensarmos bem nisso, foi não obstante também rigorosa e adequada. 
Os autores introduziram assim um novo paradigma de estudo comportamental, definindo assim também uma nova metodologia. Acima, de todo, são as implicações da sua descoberta que se revestem do maior interesse: os cães  poderão ter grande sensibilidade magnética, à semelhança de algumas aves, algo que era desconhecido até agora. IgNobel da Biologia muito bem atribuído. 


Ao que parece, não é só o Grumpy Cat
que fica de mau humor...
O IgNóbel em Saúde Pública foi atribuído a Jaroslav Flegr e colegas, também da República Checa, pelo seu estudo em que procuraram aferir se o convívio com gatos tem implicações na saúde mental dos proprietários. Demonstraram que a toxoplasmose latente (que pode variar, de área para área, entre 20-80%) resultante do contacto com gatos poderá levar a alterações comportamentais em jovens mulheres, e aumentar o risco de esquizofrenia em homens. Os autores sugerem que as mulheres que convivem com gatos são mais inteligentes, tem maior sentimento de culpa, apreensão e insegurança e, possivelmente, uma maior propensão para se sentirem tensas, determinadas e agitadas. 


Uma das imagens bem-humoradas apresentadas pelos
autores na cerimónia de atribuição dos prémios, em Boston. 
Para terminar, o estudo galardoado com o IgNobel em Ciências do Ártico realizado pelas Norueguesas Eigil Reimers e Sindre Eftestøl, que observaram como renas do ártico reagem na presença de humanos disfarçados de ursos polares. Descobriram que, quando os humanos se encontravam vestidos de modo a assemelhar-se (à distância) com um urso polar, a distância de fuga das renas encurtava consideravelmente. Isto sugere a existência de uma relação presa-predador entre as duas espécies, o que tem implicações para a ecologia e conservação das mesmas. 

É de referir que, num altura em que estudos conduzidos em animais se revestem de tanta controvérsia, são galardoadas experiências inócuas para estes, o que implica que numa análise custo-benefício, não obstante à primeira vista ser difícil perceber a razão por detrás da sua realização, não levantarem questões éticas de maior. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Bob's Dog Obedience School and Taxidermy Shop

Quando aturo o ladrar infinito do cão do outro lado do quarteirão, nada me consola como este:




sábado, 20 de setembro de 2014

Produção pecuária e bem-estar animal - Debate


Está disponível o vídeo que resultou do debate sobre Produção Pecuária e Bem-estar Animal (que teve lugar na Faculdade de Ciências da U.Porto a 22-11-2012), organizado pelo projeto Ciência 2.0 e no qual participaram autores do Animalogos. Em estúdio esteve a Anna Olsson (IBMC) na companhia da Virgínia Joaquim (Associação Zoófila Portuguesa) e de José Oliveira (Confederação de Agricultores de Portugal), com a moderação do jornalista Daniel Catalão. 

Foi sem dúvida um debate construtivo, pontuado por perguntas pertinentes do público presente. Gostei particularmente da forma como a Anna lidou com a pergunta do acesso aos estados mentais (‘sentimentos’) dos animais, comeҫando a resposta pelas metodologias mais progressistas mas também mais fáceis de entender por um público leigo (o Qualitative Behaviour Assessment e a Mouse Grimace Scale) e só depois explicando os testes etológicos mais clássicos. Também gostei que, do pouco que retiraram da minha entrevista, tenham seleccionado a parte sobre a insuficiente protecção da vaca leiteira, opinião que teve reflexo nas palavras do Presidente da APROLEP. Este tema foi também trazido a debate por outro membro do público relativamente ao efeito da genética sobre o bem-estar dos bovinos leiteiros. No entanto, a resposta rápida - mas irreflectida - da Virgínia Joaquim, atirou as culpas para a selecção artificial como um mal em si próprio, esquecendo – como apontou a Anna – que a melhoramento genético também permite seleccionar para a saúde e a longevidade.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O Burro-de-Miranda - uma visita à sede da AEPGA em Miranda do Douro

Já por mais que uma vez falámos aqui do Burro-de-Miranda e do excelente trabalho da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) para a sua promoção e conservação. Recentemente, e a propósito das férias familiares, tive a oportunidade de poder visitar a sua sede, na aldeia de Atenor, Miranda do Douro, para conhecer in loco estes fantásticos animais e o meritório trabalho desta associação fundada em 2001.

Burriquitos nascidos este ano. Todos baptizados com nomes
começando por "J" (para o ano será com "L", e por aí adiante)
(Foto: Nuno Franco)
Como estava apenas de passagem, optei pela actividade de mais curta duração (passeio de 1h30), ainda que a associação tenha outros passeios em que o contacto com os burros e a natureza envolvente assumem o papel central, e que podem durar até vários dias. Organizam e dinamizam ainda várias outras actividades, que incluem, por exemplo, o próximo workshop de Medicina Veterinária de Asininos, a realizar entre 25 e 28 de Setembro próximos.

Quem é, então, o Burro-de-Miranda? É essencialmente uma raça (subespécie?) asinina autóctone do nordeste transmontano, caracterizada por:

O "Lourenço", de oito anos, um belíssimo
exemplar da raça. (Foto: NF)

- Pelagem comprida, grossa, de cor castanha 
- Grandes e peludas orelhas. Largas na base, redondas na ponta
- Peito largo, pescoço curto e cabeça volumosa
- Lábios grossos, focinho curto e branco na ponta
- Olhos rodeados por uma mancha branca.
- Estatura elevada, mais do que 1,20 m, idealmente com 1,35 m.




Os burros até nem gostam muito que lhes mexam
nas orelhas, mas este nem se queixou... (Foto:NF) 
São animais de temperamento muito dócil, ainda que apenas machos castrados e fêmeas sejam utilizados nos passeios (a associação dispõe de 6 garanhões, não castrados, para reprodução). Quer os juvenis quer os adultos com quem contactei procuravam activamente a presença e os mimos dos visitantes, tornando muito difícil não nos afeiçoarmos a estes animais.  
Foram muito populares no passado como animais de carga, de tracção e de transporte, mas encontram-se hoje ameaçados. Existem em todo o país cerca de 800 fêmeas, ainda que apenas 400 estejam em idade reprodutora, o que coloca a raça na lista de animais ameaçados.

A longevidade dos animais de trabalho é de cerca de 30 anos, mas prevê-se que os animais que se encontram nas instalações da AEPGA possam chegar aos 40 anos de idade. 

Nas instalações da AEPGA, que incluem um terreno com 14 hectares, residem hoje 70 burros, (tendo começado com 20), catorze dos quais nasceram este ano, o maior registo de sempre. Por limitações de ordem logística (a associação não conta com qualquer apoio do município de Miranda do Douro), a associação vende ou cede animais para vários locais do país. No distrito do Porto podem ser encontrados, por exemplo, na Fundação de Serralves ou no Parque Biológico de Gaia.

A associação conta com dois médicos veterinários a tempo inteiro, que se encarregam da monitorização dos animais da associação, mas que também fazem acompanhamento veterinário de outros burros na região, por um valor simbólico, dada a idade e perfil sócio-económico da maioria dos proprietários de gado asinino na região.

Nada é deixado ao acaso pela equipa veterinária da AEPGA,
como se pode constatar neste quadro. (Foto: NF) 
Já o passeio em si, foi uma experiência muito positiva e didáctica. Toda a família adorou e eu confesso que me apaixonei por estes belos animais. Partilho com os animalogantes alguns destes momentos passados em Atenor na companhia dos Burros-de-Miranda, aproveitando ainda para recomendar esta experiência a todos que gostem de animais, de contacto com a natureza e de aventura.
Fotos: Nuno Franco
 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Treinar ratos para detectar minas



O uso de ratos (que não são os europeus Rattus norvegicus mas os seus primos distantes Cricetomys, bastante maiores, de tamanho de um cão pequeno) para detetar minas antipessoais é um elegante exemplo de colaboração humano-animal que aproveita as característica físicas e mentais do rato para abordar um problema humano gigantesco. Ativo e inteligente, o rato é fácil de treinar, e pesando pouco mais do que um quilo não faz disparar as minas.

No vídeo do TEDx de Roterdão, Bart Weetjens fala da iniciativa de treinar e disponibilizar ratos para deteção de minas e de tuberculose em Africa e Asia. O site da associação APOPO tem informação vasta sobre a sua atividade no terreno, que inclui Angola e Moçambique.