Já por mais que uma vez falámos aqui do Burro-de-Miranda e do excelente trabalho da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) para a sua promoção e conservação. Recentemente, e a propósito das férias familiares, tive a oportunidade de poder visitar a sua sede, na aldeia de Atenor, Miranda do Douro, para conhecer in loco estes fantásticos animais e o meritório trabalho desta associação fundada em 2001.
Burriquitos nascidos este ano. Todos baptizados com nomes começando por "J" (para o ano será com "L", e por aí adiante) (Foto: Nuno Franco) |
Como estava apenas de passagem, optei pela actividade de mais curta duração (passeio de 1h30), ainda que a associação tenha outros passeios em que o contacto com os burros e a natureza envolvente assumem o papel central, e que podem durar até vários dias. Organizam e dinamizam ainda várias outras actividades, que incluem, por exemplo, o próximo workshop de Medicina Veterinária de Asininos, a realizar entre 25 e 28 de Setembro próximos.
Quem é, então, o Burro-de-Miranda? É essencialmente uma raça (subespécie?) asinina autóctone do nordeste transmontano, caracterizada por:
O "Lourenço", de oito anos, um belíssimo exemplar da raça. (Foto: NF) |
- Pelagem comprida, grossa, de cor castanha
- Grandes e peludas orelhas. Largas na base, redondas na ponta
- Peito largo, pescoço curto e cabeça volumosa
- Lábios grossos, focinho curto e branco na ponta
- Olhos rodeados por uma mancha branca.
- Estatura elevada, mais do que 1,20 m, idealmente com 1,35 m.
Os burros até nem gostam muito que lhes mexam nas orelhas, mas este nem se queixou... (Foto:NF) |
Foram muito populares no passado como animais de carga, de tracção e de transporte, mas encontram-se hoje ameaçados. Existem em todo o país cerca de 800 fêmeas, ainda que apenas 400 estejam em idade reprodutora, o que coloca a raça na lista de animais ameaçados.
A longevidade dos animais de trabalho é de cerca de 30 anos, mas prevê-se que os animais que se encontram nas instalações da AEPGA possam chegar aos 40 anos de idade.
A longevidade dos animais de trabalho é de cerca de 30 anos, mas prevê-se que os animais que se encontram nas instalações da AEPGA possam chegar aos 40 anos de idade.
Nas instalações da AEPGA, que incluem um terreno com 14 hectares, residem hoje 70 burros, (tendo começado com 20), catorze dos quais nasceram este ano, o maior registo de sempre. Por limitações de ordem logística (a associação não conta com qualquer apoio do município de Miranda do Douro), a associação vende ou cede animais para vários locais do país. No distrito do Porto podem ser encontrados, por exemplo, na Fundação de Serralves ou no Parque Biológico de Gaia.
A associação conta com dois médicos veterinários a tempo inteiro, que se encarregam da monitorização dos animais da associação, mas que também fazem acompanhamento veterinário de outros burros na região, por um valor simbólico, dada a idade e perfil sócio-económico da maioria dos proprietários de gado asinino na região.
Nada é deixado ao acaso pela equipa veterinária da AEPGA, como se pode constatar neste quadro. (Foto: NF) |
Estive am Atenor no ano de 2005, quando fiz a descida do Douro Internacional de Canoa desde Miranda do Douro a Barca d'Alva. No caminho, visitámos a AEPGA e recordo o Lourenҫo, um jovem burro, ruivo e hirsuto, que nos cheirava e perseguia, como se de um cachorro se tratasse. Infelizmente nao encontro fotos nenhumas dessa experiencia (por essa altura o Facebook estava ainda a germinar).
ResponderEliminarP.S. Já agora, depois do(s) Caminho(s) de Santiago, esta foi a melhor experiencia de turismo de natureza que alguma vez tive (vejam o site da Transerrano).