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quarta-feira, 10 de março de 2010

A ética de um bom bife - Parte II

Com base nos aspectos ambientais e médicos do consumo de carne, num artigo na revista médica Lancet em 2007, um conjunto de especialistas mundiais recomenda um consumo médio de 90 g de carne por dia, ou seja pouco mais do que metade do actual consumo diário em Portugal. Calcula-se com esta medida obter grandes benefícios de saúde em países industrializados, onde uma redução do consumo de carne implicará uma redução da incidência de doenças cardiovasculares, obesidade e vários tipos de cancro. Permitiria ainda outro benefício médico: a possibilidade de, sem um acréscimo dos problemas ambientais globais, aumentar o consumo de produtos animais nos países em vias de desenvolvimento, onde o presente baixo nível de consumo de proteína constitui um risco para a saúde.

Reduzir o consumo de produtos de origem animal não implica tornar-se vegetariano. Pode implicar comer um pouco menos de carne por refeição, ou incluir algumas refeições vegetarianas na rotina alimentar. Ou porque não dar mais destaque aos pratos tradicionais, criados numa altura em que carne, por razões económicas, tinha que ser um ingrediente minoritário, e a fonte principal de proteínas ser vegetal: uma feijoada, umas tripas-à-moda-do-Porto ou uma sopa de pedra.

Reduzindo assim o consumo de carne, e sendo a carne um alimento caro, o consumidor vai gastar menos dinheiro. Este dinheiro podia ser investido na carne que de facto se vai consumir. Paradoxo? De maneira nenhuma, se consideramos o terceiro aspecto ético do consumo de produtos de origem animal: os próprios animais e o seu bem-estar. Com a pressão económica levando à intensificação da produção, restringe-se a liberdade de movimento e a possibilidade dos animais viverem segundo a sua natureza. Se nós como consumidores podemos pagar um pouco mais pelos menos quilogramas de carne que compramos, podemos antes optar pelos produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), de sistemas de produção locais e de raças autóctones, ou carne da produção biológica. Assim apoiaremos um modo de produção com regras que consideram não só o bem-estar animal mas também a nossa herança cultural e a biodiversidade e paisagem rural onde estes animais pastam.

Mas independentemente da origem da carne, o presente nível de consumo num país industrializado como Portugal não é sustentável. Ou seja, temos um consume de carne que faz mal a nós, aos outros animais e ao planeta. Temos aqui uma discussão que é urgente enfrentar, para que quem tem ética não tenha que passar fome!

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