Em The expressions of the emotions in man and animals, Charles Darwin defendeu a existência de mecanismos universais para a expressão de sensações como dor e que ultrapassam as fronteiras inter-espécies. Baseou esta ideia na sua teoria da evolução através de selecção natural, mas também na sua própria investigação empírica. Através de um questionário enviado a compatriotas que trabalhavam em diversas partes do mundo, Darwin verificou que, da mesma maneira que os europeus elevavam as sobrancelhas, coravam, torciam o nariz e encolhiam os ombros, assim faziam também os malaios, os afro-americanos, os maoris e os índios. Agora sabemos ainda que bebés recém-nascidos e pessoas com cegueira congénita mostram as mesmas expressões faciais que humanos adultos saudáveis, o que corrobora que estas expressões sejam congénitas e genéticas, ao invés de aprendidas e culturalmente transmitidas.
Mas serão tão universais que as encontremos também em outras espécies? Darwin achou que sim, e o livro dele é rico em ilustrações disto. Outros exemplos ainda podem ser encontrados na exposição Exuberâncias da Caixa Preta a decorrer no Museu Soares dos Reis no Porto.
Mas serão tão universais que as encontremos também em outras espécies? Darwin achou que sim, e o livro dele é rico em ilustrações disto. Outros exemplos ainda podem ser encontrados na exposição Exuberâncias da Caixa Preta a decorrer no Museu Soares dos Reis no Porto.
"Cat, savage and prepared to fight. Drawn from life by Mr. Wood."
(De: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?itemID=F1142&viewtype=text&pageseq=1)
(De: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?itemID=F1142&viewtype=text&pageseq=1)
O argumento evolutivo é que, se as expressões faciais são congénitas e genéticas em nós, então deverão também existir em espécies que nos são próximas. Se a capacidade de expressar sentimentos nos traz vantagens evolutivas, as mesmas deverão também ser benéficas para outras espécies. Ou não? Não é óbvio que assim seja. Para quem é muito pequeno e com muitos inimigos, poderá ser melhor não assinalar fraquezas. Um ratinho com dores será certamente uma presa mais fácil, mas será desnecessário dizer "ai!" arriscando-se a que o gato ouça.
Nos cursos para investigadores que pretendem trabalhar com animais, ensinamos que é difícil identificar sinais de dor num ratinho, porque há uma vantagem evolutiva para presas naturais esconderem sinais de dor e doença. Mas num artigo na ultima edição da revista Nature Methods um grupo canadiano de investigadores mostra que, se observamos bem, podemos ver dor expressa na cara do ratinho.
O professor Jeffrey Mogil e a sua equipa de investigação sujeitaram ratinhos de laboratório a uma série de testes que são usados na investigação em dor. Nestes é induzido dor de grau e duração variável através de injecções ou intervenções cirúrgicas. Os ratinhos foram filmados e dos filmes extraíram-se imagens onde apenas a cara – e não o corpo do ratinho - era visível. Mostrou-se uma mistura de imagens de ratinhos com e sem dor a um painel de pessoas que não sabiam a que tratamento os ratinhos tinham sido sujeitos e, partindo de escalas de classificação para expressões faciais humanas, o painel avaliou a expressão dos ratinhos.
A avaliação do painel correspondeu ao tratamento do ratinho em até 97% dos casos quando se usou uma câmara de alta definição. Parece ser sobretudo dor de duração média, entre 10 minutos até 12 horas, a que melhor se reflecte na expressão facial do ratinho. Esta expressão envolve um semicerrar dos olhos, uma extensão arredondada da pele visível na ponta do nariz e um empolar das bochechas. O ratinho ainda estira as orelhas e os bigodes para trás, de encontro à cara ou para a frente, como se suspensos na ponta. Faltam-nos bigodes e orelhas movíveis, mas no que diz respeito a olhos, nariz e bochechas partilharmos a expressão facial com o ratinho.
Nos cursos para investigadores que pretendem trabalhar com animais, ensinamos que é difícil identificar sinais de dor num ratinho, porque há uma vantagem evolutiva para presas naturais esconderem sinais de dor e doença. Mas num artigo na ultima edição da revista Nature Methods um grupo canadiano de investigadores mostra que, se observamos bem, podemos ver dor expressa na cara do ratinho.
O professor Jeffrey Mogil e a sua equipa de investigação sujeitaram ratinhos de laboratório a uma série de testes que são usados na investigação em dor. Nestes é induzido dor de grau e duração variável através de injecções ou intervenções cirúrgicas. Os ratinhos foram filmados e dos filmes extraíram-se imagens onde apenas a cara – e não o corpo do ratinho - era visível. Mostrou-se uma mistura de imagens de ratinhos com e sem dor a um painel de pessoas que não sabiam a que tratamento os ratinhos tinham sido sujeitos e, partindo de escalas de classificação para expressões faciais humanas, o painel avaliou a expressão dos ratinhos.
A avaliação do painel correspondeu ao tratamento do ratinho em até 97% dos casos quando se usou uma câmara de alta definição. Parece ser sobretudo dor de duração média, entre 10 minutos até 12 horas, a que melhor se reflecte na expressão facial do ratinho. Esta expressão envolve um semicerrar dos olhos, uma extensão arredondada da pele visível na ponta do nariz e um empolar das bochechas. O ratinho ainda estira as orelhas e os bigodes para trás, de encontro à cara ou para a frente, como se suspensos na ponta. Faltam-nos bigodes e orelhas movíveis, mas no que diz respeito a olhos, nariz e bochechas partilharmos a expressão facial com o ratinho.
Expressão facial de dor no ratinho. A escala de 0 a 2 corresponde ao nível de dor.
Figure kindly provided by Jeffrey Mogil and not-for-profit reproduction licensed by Nature Publication group. Originally published in Nature Methods 7, 447-449, 2010.
O mesmo grupo de investigação já mostrou anteriormente que ratinhos reagem quando outros ratinhos são sujeitos a dor e faz ainda referência a resultados ainda não publicados que mostram que ratinhas se mantém próximas de um familiar com dor.
Estes resultados não são, evidentemente, prova de que um ratinho que expressa dor de maneira semelhante a um ser humano sinta a dor de maneira semelhante. Mas parece-me que fica cada vez mais difícil argumentar que os outros mamíferos não sentem dor de uma maneira com que precisemos de nos preocupar.
Ensinamos os investigadores a reconhecer que se a intervenção seria dolorosa num ser humano, deveremos assumir que o seja também noutro animal. No futuro pode ser que acrescentemos "se achar que dói, olhe o ratinho nos olhos".
Estes resultados não são, evidentemente, prova de que um ratinho que expressa dor de maneira semelhante a um ser humano sinta a dor de maneira semelhante. Mas parece-me que fica cada vez mais difícil argumentar que os outros mamíferos não sentem dor de uma maneira com que precisemos de nos preocupar.
Ensinamos os investigadores a reconhecer que se a intervenção seria dolorosa num ser humano, deveremos assumir que o seja também noutro animal. No futuro pode ser que acrescentemos "se achar que dói, olhe o ratinho nos olhos".
A diferença mental entre os homens e os outros animais superiores, mesmo sendo enorme, é certamente uma diferença de grau e não de género”, Charles Darwin, in “The descent of man and selection in relation to sex”. Porque terá tido a humanidade tanta dificuldade em sentir-se parte do Reino Animal? Se somos feitos da mesma matéria, se partilhamos o mesmo planeta, se temos as mesmas necessidades básicas, não deveríamos achar que podemos sentir o mundo de forma semelhante?
ResponderEliminarTodos nós já identificamos emoções nos nossos animais. Reconhecer manifestações de alegria, tristeza, raiva ou medo fazem o ser humano sentir consideração por eles e respeitar a sua vida, os seus sentimentos, a sua natureza, o seu habitat. O rico leque de comportamentos dos animais fazem-nos reconhecer que as suas emoções são complexas. É por este motivo que os animais têm individualismo, sendo únicos na gestão das suas emoções exibem uma personalidade resultante. As emoções moldam a personalidade que manifesta diferentes graus de motivação face a um qualquer estímulo.
Paralelamente podemo-nos perguntar se achamos que os animais têm consciência de si próprios. Tal consciência indica que os animais conseguem analisar o que estão a sentir e ter uma experiência emocional. Aumenta a nossa preocupação com aquilo que os animais sentem, se aliado por exemplo a uma dor física, estiver uma dor emocional. O estudo que mostrou que ratinhos reagem quando outros ratinhos são sujeitos a dor e que os ratinhos e mantém próximos de um familiar com dor indica que os seres humanos não são os únicos animais a conseguirem colocar-se na “pele do outro”.
É difícil avaliar que emoções têm os animais, ou quais os animais capazes de sentir emoções. Mas é fácil entender que todos os animais sentem dor. A dor é um mecanismo de defesa básico para evitar situações não desejadas e é essencial para a sobrevivência de qualquer ser vivo.
Um estudo da Queen’s University revelou que os caranguejos-eremitas não só sentem dor, mas são também capazes de recorda-la. "Esta investigação demonstra que não se trata de um simples reflexo mas que os caranguejos negociam a sua necessidade de ter uma carapaça de qualidade com a necessidade de evitar estímulos danosos. Negociações deste género não tinham sido demonstradas anteriormente em crustáceos. Os resultados são consistentes com a ideia de que estes animais sentem a dor”.
http://yourwebapps.com/WebApps/mail-list-archive.cgi?list=65673;newsletter=1571
O estudo das expressões faciais em animais é importante para tornar o estudo das emoções uma realidade observável e fazendo com que a expressão do nível de dor seja mensurável. Outros aspectos que podem ser analisados são as expressões corporais e vocalizações em situações de dor. A prova científica pode mudar a nossa consciência e, consequentemente as nossas acções.
Ao olhar nos olhos de um ratinho em sofrimento consigo sentir a sua dor, e não quero ter este sentimento. As nossas próprias emoções são o caminho a seguir na evolução do pensamento ético, na forma como vemos e tratamos os animais.
Do ponto de vista moral, sempre foi útil sabermo-nos colocar na pele dos animais para reflectirmos sobre a forma como os tratamos. Mas a ciência, por outro lado, foi sempre céptica em introduzir variáveis subjectivas como emoções (no estudo da consciência animal) ou sofrimento (no estudo da dor). Pela minha parte, considero que a nossa visão é inexoravelmente antropomórfica quer sejamos filósofos ou cientistas, e não há mal nenhum nisso.
ResponderEliminarO estudo de que fala evidencia que os caranguejos, além de experienciarem estímulos negativos, são capazes de os sentir e assim aprender com eles. Ora se um caranguejo "sente o que sente" é porque tem o potencial de sofrer. E segundo algumas visões éticas um ser que sofre é um ser que conta moralmente. Mas então, quais são para si as consequências práticas de os crustáceos serem potencialmente capazes de sofrer?
Os crustáceos são animais usados para o consumo humano e sofrem desde a altura em que são capturados. São presos em jaulas pequenas, transportados em condições que provocam stress, são expostos em supermercados e lotas ou em aquários de restaurantes com as pinças amarradas. A maioria destes crustáceos é cozinhada viva, podendo ser colocada em água fria levada à ebulição ou mergulhada directamente em água a ferver. http://www.shellfishnetwork.org.uk/facts/fact4.htm
ResponderEliminarO facto de os caranguejos e outros crustáceos serem capazes de sofrer deve produzir em todos nós mudanças nas nossas acções para que os animais não passem pelas situações acima descritas. Deveria ser abolida a prática de cozinhar o marisco ainda vivo. A participação activa em alguns acções de protesto são extremamente importantes. A associação animal escreveu em Junho deste ano uma carta tipo dirigida ao supermercado Pingo Doce a propósito de uma campanha publicitária: “Peça-nos para cozer o nosso marisco vivo, enquanto faz as suas compras”, denunciando crueldade contra animais.