Foto obtida da revista The Scientist
Na minha opinião, isto assume particular relevância devido às assimetria que encontramos entre o contexto ambiental pré-clínico e os estudos clínicos que lhe sucedem. Humanos que participam em estudos clínicos levam vidas ricas ao nível sensorial, social, cognitivo e motor (ou pelo menos bem mais que ratinhos em pequenas caixas onde a estimulação destes domínios é escassa). Um dos meus argumento é que o enriquecimento ambiental (se biologicamente relevante) não só melhora a vida dos animais como também aumenta a validade externa dos dados provenientes do seu uso. e isto tem vindo a ser crescentemente corroborado por estudos científicos.
Digo eu...
Eu concordaria contigo, Nuno, não fosse o investigador Matthew During afirmar no vídeo que este tipo de ambientes enriquecidos aumenta os níveis de stress dos animais. Não será que a sobre-estimulação a que os animais são sujeitos pode trazer novas variáveis que interfiram no processo experimental?
ResponderEliminarPor partes:
ResponderEliminar1 - Não me parece haver aqui sobre-estimulação. Quando "enriquecemos" estes ambientes artificias, o que na realidade estamos a fazer é torná-los "menos pobres". É virtualmente impossível mimetizar as condições naturais que permitem aos animais expressar todo o leque de comportamentos que potencialmente poderiam manifestar (aconselho vivamente o site http://ratlife.com, o qual merecia, só por si, que lhe dedicasse um post).
2 - Há evidências que apontam para o contrário do que diz During (http://www.nature.com/mp/journal/vaop/ncurrent/abs/mp201034a.html). Contudo, conheço o efeito que o enriquecimento pode ter no aumento da disputa territorial. Em termos simples, resume-se a qualquer coisa do tipo "se há alguma coisa a disputar, a mesma será disputada". O clássico tubo de cartão é um bom exemplo disto pois não só se constitui como um recurso a disputar, como é ainda usado pelos animais para se esconderem e depois "emboscarem" outros.
3 - Hanno Wurbel e a sua equipa já demonstraram (http://www.forschung3r.ch/data/projects/AltexSupl-07-W%C3%BCrbel-Bul30.pdf) que o Enriquecimento ambiental não só não constitui fonte de variabilidade indesejada, como também que permite maior reprodutibilidade que a tão procurada "padronização" ambiental", que de facto a diminui (http://www.nature.com/nmeth/journal/v6/n4/full/nmeth.1312.html).
4 - Aumentar o espaço útil utilizável pelos animais permite que animais hierarquicamente inferiores possam fugir e assim evitar confronto resultante da disputa e exacerbado pela falta de espaço (não encontrei a referência, depois digo).
5 - Até agora, só material de ninho parece ser consensualmente encarado como enriquecimento ambiental biologicamente relevante. Todos os outros tipos, como tubos de cartão, "iglos" e outros semelhantes não são tão consensuais, se consideramos os estudos disponíveis a esse respeito (como este aqui: http://www.appliedanimalbehaviour.com/article/S0168-1591%2801%2900200-3/abstract)