"Foi longa e tortuosa a evolução. Difícil. Mas as características que, actualmente, estão fixadas nas raças nacionais de cães de gado constituem um património genético invejável. Que não se pode perder. Contribuir para a preservação dos cães de gado e para divulgar a exigente tarefa que constitui o árduo quotidiano destes cães é o desafio deste livro. Esta obra vive da imagem e dos testemunhos de pastores e investigadores – plena de cor, acção e dramatismo. Para o leitor constituirá o regresso a um universo que julga perdido: o mundo rural, com os cães em acção guardando rebanhos e manadas, defendendo-os dos lobos e realizando combates de vida ou morte. Os cenários são naturais: as grandes serranias a norte do Douro, os cumes de Castro Laboreiro, os alcantis da Peneda, as encostas do Alvão. Aí, nesses ambientes selvagens, veremos como se entrecruzam destinos: ovelhas e vacas das ameaçadas raças autóctones, velhos pastores armados com cães e cajados. E como sobrevivem os velhos costumes e saberes – ante o desaparecimento de tradições como a transumância."
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ResponderEliminarO melhor de tudo isto é a própria abordagem à questão da protecção do gado ovino e caprino. A presença dos cães poderá ser, por si, um factor dissuasor, evitando o abate dos lobos por pastores, que compreensivelmente pretendem preservar o seu património. Agora, interrogo-me se há presas selvagens em número suficiente. Se esta não for uma acção concertada no sentido de proporcionar alternativas de predação ao lobo, podemos agudizar o problema. Digo eu..
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ResponderEliminarA minha infância foi povoada de histórias, contadas à lareira, num Alto Alentejo profundo. O meu avô era um excelente contador de histórias, especialmente histórias da sua vida de pastor, riquíssima em aventuras. Percebia de ovelhas, como ninguém, sendo a ele que alguém recorria quando se deparava com algum problema ovino. Sempre teve cães que o acompanhavam e ajudavam no pastoreio, fosse a conduzir as ovelhas para outros pastos ou a proteger o rebanho de ataques de lobos, que por ali existiam naquele tempo. Aos seus cães, sempre lhes reconheceu grande valor, tendo por eles uma enorme estima. “Se por ali andasse um lobo, o cão dava logo sinal”, dizia ele, “e se fosse preciso lutava corpo a corpo com os lobos” para defender o que era seu (o pastor e o rebanho). O cão chegava a ter uma coleira de picos metálicos que o protegia em caso de confronto directo com os lobos. É incrível que alguém analfabeto pudesse, ao longo da vida, ter sido tão sábio…
ResponderEliminarHomem e cão evoluíram em paralelo ao longo da história, de um modo inseparável e indiscutível, tornando-se (em casos felizes) no fiel amigo um do outro. É curioso que o cão, cuja ascendência remonta ao lobo, seja utilizado para defender os rebanhos do homem contra os seus parentes lobos. É realmente necessário ser um animal especial para que isso aconteça.
Ao utilizar cães de pastoreio, o pastor está, não só a salvaguardar a ele e ao seu precioso rebanho, mas também ao lobo, que de outra forma tenderia a ser exterminado. É pois de louvar e apoiar o uso de cães de gado, pois a sua utilização traduz-se numa maior sustentabilidade e equilíbrio, não pondo em risco o futuro do lobo, mas sim apoiando-o, mesmo que indirectamente.
Boa noite,
ResponderEliminarPenso ser importante, no contexto deste post, realçar o facto de os cães utilizados para este fim não serem cães de pastoreio, mas sim cães pastor. Em Português poderá parecer igual, mas traduzindo para inglês, as definições ganham todo o sentido. Sheepdog são cães de pastoreio, cães utilizados para conduzir rebanhos, cães que as ovelhas temem e que as conduzem com base no medo incutido no rebanho. Exemplos destes cães são o border collie ou o “nosso” Serra D’Aires. Cães pastor, os falados neste tópico, são os Shepherd dog ou LGD (livestock guardian dogs). São cães que vivem totalmente com o rebanho, que crescem com as ovelhas, que têm um extremo “bonding” com o rebanho, encarando-as como sua família. Vivem quase exclusivamente com o rebanho, nunca se afastando deste. Este laço intrínseco formado entre cães de gado e o rebanho, juntamente com o seu instinto de guarda, leva-os a protegê-las de qualquer predador (de duas ou quatro patas). Exemplos destes são o Caucasian Ovcharka, o Pyrenean Mountain dog ou os nossos Cão Serra da Estrela ou Castro Laboreiro (que figura na capa deste livro).
Iniciativas como as descritas ou como as desenvolvidas pelo Grupo Lobo pelo fornecimento de cachorros destas raças a pastores que mantêm rebanhos na zona de lobos ajudam não só na preservação do lobo-ibérico, como – e muito importante – na preservação das raças caninas autóctones, garantindo o seu aperfeiçoamento não só morfológico como funcional!
Resta saber, até que ponto é que estas histórias bem intencionadas são bem delineadas, pois caso não o sejam poderão causar problemas ainda maiores do que os existentes. Exemplo claro é o que se tem passado no Nordoeste transmontano , nestes últimos 5 anos, com determinados pastores e cachorros/cães de Cão de Gado Transmontano fornecidos por um entidade regional.
É que, como disse e bem, histórias todos sabemos contar …
Caro TGNL:
ResponderEliminarO seu ponto de vista é muito intweressante. É capaz de nos explicar melhor o que é que se tem passado no Nordeste Transmontano?
Boa noite
ResponderEliminarO Nordeste transmontano foi (e é) das zonas de Portugal onde o Lobo, de uma maneira ou de outra, sobreviveu. Desenvolveram-se durante séculos naquela zona os Cães de Gado Transmontano (CGT), que tal como o Cão Serra da Estrela na zona da Beira, o Castro Laboreiro no Minho e o Rafeiro do Alentejo (RA) nas planicies a Sul do Páis, protegeram os rebanhos contra os predadores. Cada uma destas raças adaptou-se, através de uma selecção quase natural, aos terrenos da sua zona e ao maneio especifico dos rebanhos dessa mesma região. A grande diferença entre o CGT e as restantes raças enumeradas, é que estes mantiveram-se muito mais reais à sua origem pois tinham e têm que ser eficazes contra os ataques dos lobos que ainda populam essa zona. Quem tiver oportunidade de falar com os pastores do Nordeste Transmontano ouvirá milhentas historias sobre LGD vs Lobos, onde sobressai a bravura, lealdade e responsabilidade dos cães. Era igualmente frequente, juntamente com as “Chegas de Bois” falar-se de testes aos cães e da sua coragem na defesa dos rebanhos! Havia um orgulho daquela gente nos cães que possuíam e que protegiam um dos seus bens mais preciosos.
Mas as histórias dos últimos tempos, ao contrario do que se faz transparecer, vão caminhando para o oposto. São histórias de cães mais tímidos e inseguros, histórias de ataques que matam 10 e 15 ovelhas e cujos cães saem completamente ilesos. E não, os lobos não terão com certeza novas armas nem são lobos (ou mm cães assilvestrados) com dentes de sabre. A qualidade dos cães é que diminuiu, a politica de criação dos cães mudou e têm-se revelado no aspecto funcional algo desastrosa. A razão é simples, com alguma ânsia de levar para a frente o projecto do CGT, o seu reconhecimento oficial, veio a necessidade de estabilizar a raça morfologicamente. É prática corrente, quando os coordenadores do programa, visitam os pastores para verem os cães que lhes entregaram, para recolher DNA ou para registar ninhadas aconselharem determinados cruzamentos cuja única finalidade é distanciar o CGT do RA e nada mais! Já vai sendo prática corrente de alguns pastores até, quando vão a Espanha comprar ovelhas, comprarem também LGD lá, devido à ineficácia actual dos cães que possuem. E nem é preciso ir muito longe para constatar, quem for a uma exposição de cães ou à monográfica da raça depressa se apercebe quais são os cães que são criados unicamente pelos pastores (poucos) e quais são aqueles cuja criação é orientada.
Claro que isto é apenas a minha opinião, com base nos relatos que oiço, mas penso que todos concordaremos que quando começamos a seleccionar unicamente com base na morfologia, que a funcionalidade sairá muito prejudicada!
Projectos como o do Grupo Lobo ou este do CGT têm todo o mérito e podem servir não só para ajudar no regresso do lobo a Portugal como também ajudar e muito na preservação das raças autóctones, mas como em tudo, tem que ser feito com pés e com cabeça!