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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Experimentação animal no século XXI: Necessidade ou Capricho? - O debate possível ( parte 1)

Antes de mais, peço desculpa pela extemporaneidade deste post, que diz respeito ao debate que ocorreu na FEUP a 26 de Novembro a propósito das II Jornadas de Bioengenharia e subordinado ao tema em epígrafe.

A convite dos alunos de Bioengenharia, fui moderador deste debate, que contou com as apresentações da Prof. Fátima Gartner (ICBAS/IPATIMUP) e de Rita Silva, Presidente da Direcção da Associação Animal.

A apresentação da prof. Fátima foi, fundamentalmente, uma apologia àquilo que entendeu ser a actual necessidade imperiosa do uso de animais como modelos em investigação básica e aplicada, como garante da eficácia e segurança das terapias e outras intervenções usadas em contexto clínico e veterinário. Uma das questões mais focadas foi a da Responsabilidade - que salientou ser o "quarto R" da experimentação animal - dos investigadores no uso de animais. Assim, frisou ser o dever de qualquer investigador responsável o de apenas usar animais quando absolutamente inevitável, no menor número possível e com a maior atenção para o seu bem-estar. Outro tópico que destacou foi o uso em investigação de modelos espontâneos de doenças em animais de companhia que chegam às clínicas veterinárias.
Da parte de Rita Silva, foi feita essencialmente uma oposição ao uso de animais no plano ético. Assim, independentemente de quaisquer outros factores, o uso de animais não deveria ser sequer equacionado como uma possibilidade, tendo afiançado - ainda que sem especificar - a existência de alternativas ao uso de animais sencientes, aqueles que, efectivamente, deveriam ser protegidos do sofrimento. Ainda que sem desenvolver em concreto a que se referia, foram ainda apontados "os dramas e horrores do passado" atribuíveis à alegada falta de validade do uso de animais como modelos de seres humanos e o facto do uso de animais apenas ser praticado devido à existência de grandes interesses económicos detrás dos mesmos.

Aparte a enorme diferença de posturas, houve também uma grande diferença de estilos. Ao contrário do que estava à espera, a participação mais entusiasta e emocionada partiu da Prof. Fátima, que não se coibiu de lançar desafios à plateia ("quem tomaria uma droga ou vacina não testada? Ou a daria ao seu animal?"), que prontamente aderiu e corroborou em massa o que pretendia demonstrar. Outra diferença a assinalar foi que a Prof. Fátima falou a título individual e com base na sua experiência de décadas como investigadora, enquanto que a Rita foi porta-voz da posição oficial da Animal, não se desviando da mesma.

No geral, o debate correu com elevação e respeito de parte-a-parte, algo que temia poder não acontecer, uma vez que tinha já tido a má experiência do debate no Clube Literário do Porto, que foi absolutamente kafkiana, nomeadamente ao nível das reacções inflamadas do auditório (mas não dos oradores), onde termos como "sadismo", "tortura" e "mentira" foram apontados ao trabalho de cientistas que dedicam os seus esforços à melhoria da saúde e qualidade de vida dos seres humanos.  Tal não foi o caso, contudo.

Ambas as convidadas deram a conhecer a sua diferente visão de um mesmo fenómeno - o uso de animais como modelos em investigação biomédica - cada uma de algum modo influenciada pela subjectividade da sua própria experiência e sensibilidade. Mas isto fica para a segunda parte...

(Continua...)

4 comentários:

  1. Nuno, tomei a liberdade de introduzir uns hiperlinks à tua mensagem. Estou curioso em relação à parte 2... Já agora, estava muita gente? E qual te pareceu ser o perfil da plateia?

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  2. Enquanto estou a preparar uma aula sobre desenvolvimento de fármacos e investigação in vivo e in vitro, começo a perceber de onde surgem visões como aquelas que ouvimos no debate no Clube Literário. Pesquiso o www a procura de informação sobre Pasteur e a vacinação contra raiva, e começo a desesperar. Wikipedia sobre Pasteur tem informação de alguma extensão e parece de confiança. Mas para cada site com informação que parece relativamente fundamentada e neutra, parece haver uma com teorias de conspiração. Alguns de uma perspectiva de antivivisecção, outras de uma perspectiva religiosa. E depois ainda os muito simplificado que simplesmente conta uma curta historia de sucesso, menino que parecia destinado a uma morte horrorosa foi milagrosamente salvo. Analise critica, informação relevante - onde?

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  3. Estava o auditório da FEUP cheio. Isso dá umas 400 pessoas, mais ou menos. Era essencialmente constituído por alunos de bioengenharia de todo o país.

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  4. Anna, para uma boa introdução à história da vacina da raiva tens o livro da Anita Guerrini (Experimenting with Humans and Animals: From Galen to Animal Rights, The Johns Hopkins University Press, 2003)que se não me engano tens no IBMC. É na verdade uma história com algo de heróico.

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