Na sequência da notícia publicada
pelo Jornal de Notícias, divulgada também pela
TVI a 20 de Fevereiro de 2013 (também com destaque na imprensa
internacional), foi possível visualizar um conjunto de imagens do exercício militar Cobra Gold.
Este evento, promovido na Tailândia pelo seu exército em parceria com forças
militares dos EUA, decorre anualmente desde 1980 e visa fortalecer as relações militares
entre os EUA e a região da Ásia-Pacífico. Na presente edição (11 a 21 de
Fevereiro) participaram ainda Japão, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia e
Singapura. Foram 13 mil os operacionais que se submeterem ao curso de sobrevivência
levado a cabo na base tailandesa de Sattahip, província de Chonburi, na qual,
entre outros exercícios, foi ensinada a caça e a alimentação a cru de cobras,
insetos e aves.
Olhando aos títulos das notícias,
e às respetivas imagens, somos confrontados com “mensagens” díspares. Se, por
um lado, as cobras são referidas como recurso para a “sobrevivência”, por outro,
as imagens dizem-nos algo mais. Observamos o maneio das cobras ainda vivas e,
já depois de mortas, podemos ver o seu sangue bebido e escorrido pela cara e
farda dos militares. Muitos apresentam ainda máquinas em punho a registar o
momento e, por último, a atenção prende-se com a fotografia de um participante
exibindo partes de uma cobra a penetrar as suas narinas.
Não é a espontaneidade dos militares para registar a originalidade do
momento que está em causa e muito
menos os objetivos deste treino. Sem pôr em causa a liberdade de imprensa, o
que nos intriga é a divulgação de algumas destas imagens por parte dos media, que, tendo um primeiro sentido de
ilustrar uma prática militar, acabam por noticiar algo mais complexo: aquilo
que seria um treino com propósitos declaradamente diplomáticos é, também (e
afinal), um espetáculo onde militares são treinados para matar e brincar, em
nome da “sobrevivência”.
Atente o leitor ao recurso
das aspas no título da curta notícia do JN. Lê-se que os militares
“sobrevivem”. Ora, se por um lado, é clara a tentativa de suavizar no texto a
ideia (forçada) da sobrevivência dos militares, por outro, e dado o conteúdo
fotográfico, há aqui algo incontornável: as imagens não têm aspas!
Mas a divulgação de imagens
obedece alguma legislação? Debrucemo-nos sobre o panorama nacional. Recorrendo à Lei nº 92/95 de 12 de
Setembro (Protecção de Animais), constatamos que não existem referências a critérios
de divulgação de conteúdos audiovisuais que ponham em causa a dignidade do
animal. No Código Deontológico dos
Jornalistas, não se lê também qualquer restrição sobre a imagem, seja
relativa ou não a animais. Dada a pertinência ética que esta questão encerra,
sinalizamos a lacuna. Só recorrendo a um documento elaborado e divulgado por
ONGs, a chamada Declaração Universal dos Direitos dos Animais encontramos
suporte para a nossa preocupação.
Artigo 13º
1. Um animal morto deve ser tratado com respeito.2. As cenas de violência nas quais os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se essas cenas têm como fim mostrar os atentados contra os direitos do animal.
Dada a problemática da utilização das imagens dos animais no contexto anterior, e porque o contraste é interessante e de salutar na discussão, concluímos convidando à visualização do mais recente vídeo da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals).
Neste vídeo observa-se a utilização da imagem de humanos como matéria-prima para a coleção de roupas, vestidas por não-humanos, para efeitos de sensibilização do tratamento ético dos animais… Que dizer eticamente sobre a divulgação destas imagens? Uma coisa é certa: Os vídeos também não têm aspas!
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