
Olhando aos títulos das notícias,
e às respetivas imagens, somos confrontados com “mensagens” díspares. Se, por
um lado, as cobras são referidas como recurso para a “sobrevivência”, por outro,
as imagens dizem-nos algo mais. Observamos o maneio das cobras ainda vivas e,
já depois de mortas, podemos ver o seu sangue bebido e escorrido pela cara e
farda dos militares. Muitos apresentam ainda máquinas em punho a registar o
momento e, por último, a atenção prende-se com a fotografia de um participante
exibindo partes de uma cobra a penetrar as suas narinas.
Não é a espontaneidade dos militares para registar a originalidade do
momento que está em causa e muito
menos os objetivos deste treino. Sem pôr em causa a liberdade de imprensa, o
que nos intriga é a divulgação de algumas destas imagens por parte dos media, que, tendo um primeiro sentido de
ilustrar uma prática militar, acabam por noticiar algo mais complexo: aquilo
que seria um treino com propósitos declaradamente diplomáticos é, também (e
afinal), um espetáculo onde militares são treinados para matar e brincar, em
nome da “sobrevivência”.
Atente o leitor ao recurso
das aspas no título da curta notícia do JN. Lê-se que os militares
“sobrevivem”. Ora, se por um lado, é clara a tentativa de suavizar no texto a
ideia (forçada) da sobrevivência dos militares, por outro, e dado o conteúdo
fotográfico, há aqui algo incontornável: as imagens não têm aspas!
Mas a divulgação de imagens
obedece alguma legislação? Debrucemo-nos sobre o panorama nacional. Recorrendo à Lei nº 92/95 de 12 de
Setembro (Protecção de Animais), constatamos que não existem referências a critérios
de divulgação de conteúdos audiovisuais que ponham em causa a dignidade do
animal. No Código Deontológico dos
Jornalistas, não se lê também qualquer restrição sobre a imagem, seja
relativa ou não a animais. Dada a pertinência ética que esta questão encerra,
sinalizamos a lacuna. Só recorrendo a um documento elaborado e divulgado por
ONGs, a chamada Declaração Universal dos Direitos dos Animais encontramos
suporte para a nossa preocupação.
Artigo 13º
1. Um animal morto deve ser tratado com respeito.2. As cenas de violência nas quais os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e na televisão, salvo se essas cenas têm como fim mostrar os atentados contra os direitos do animal.
Dada a problemática da utilização das imagens dos animais no contexto anterior, e porque o contraste é interessante e de salutar na discussão, concluímos convidando à visualização do mais recente vídeo da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals).
Neste vídeo observa-se a utilização da imagem de humanos como matéria-prima para a coleção de roupas, vestidas por não-humanos, para efeitos de sensibilização do tratamento ético dos animais… Que dizer eticamente sobre a divulgação destas imagens? Uma coisa é certa: Os vídeos também não têm aspas!
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