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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Obesidade de estimação



Por  Helena Correia, Patrícia Esteves e Tiago Neves, alunos da Pós-Graduação de Bem-Estar e Comportamento Animal do ISPA. 
Gato doméstico obeso. Fotografia: Malin Öhlund



Cães e gatos gordos, sim, a obesidade também já chegou aos nossos animais de estimação, considerada pela Organização Mundial de Saúde como a “Epidemia do Século XXI”. São muitos os paralelos no nosso quotidiano entre os seres humanos e os animais não humanos, com consequências igualmente negativas. Só em Portugal estima-se, que dos 1,8 milhões de caninos e 1 milhão de felinos que vivem nos nossos lares (Visão, Agosto 2014), 40% dos cães e 30% dos gatos estejam obesos

O cão ou gato com excesso de peso vai ser um animal com menos vontade de brincar, com cansaço excessivo e dificuldade ao movimentarem-se e com elevado risco de desenvolver doenças típicas da obesidade, como os diabetes (tipo II), as habituais doenças cardiovasculares e o cancro. Também irá ser devastador para as articulações, o sistema respiratório e renal. Ou seja, estes nossos amigos vão perder qualidade de vida e também viver muito menos tempo. 

Casos de referência são o Meow e o Rusty cuja atenção mediática e ação por parte das autoridades e associações de animais abriram um precedente para a questão do bem-estar animal em casos de obesidade. Estávamos habituados a ouvir casos em que as autoridades agiram para salvar animais de fome, mas os donos do Meow e do Rusty veram o seu animal ser aprendido por ter peso a mais. 

Quando vamos avaliar as causas, temos de obrigatoriamente olhar para a relação homem-animal. Embora há influência de fatores fisiológicos, genéticos e patológicos (por exemplo, a esterilização e a castração diminuía o ritmo metabólico, há raças com mais predisposição para se tornarem obesos e doenças como hipertiroidismo afeta diretamente o metabolismo), os  "Meow” e “Rusty" vão ser um reflexo dos cuidados que recebem. 

É aqui que hábitos e falta de informação surgem nesta história. Sem necessiariamente de se aperceber, os donos acabam por não preencher as necessidades de estímulos e exercício, impossibilitando o gasto da energia que é recebida pela dieta. Ou não se tem ideia real da quantidade de comida que o animal recebe ou necessita para ter uma dieta saudável e balanceada. E existe sempre "aquele bocadinho extra de comida minha de que ele gosta tanto", o chamado “too much love”, um hábito que pode ter consequências ainda piores quando o que é oferecido não é um alimento adequados para os animais. 

 

A nova legislação que entrou em vigor em Portugal pune e condena os maus-tratos aos animais, seja por privação de meios essências à sua sobrevivência, como comida e água, ou por agressão ou abandono. São responsáveis, todos aqueles que “sem motivo legítimo, infligirem dor, sofrimento ou quaisquer outros maus-tratos a um animal de companhia”. No entanto, não deverão ser também responsabilizados todos aqueles que comprometem a saúde e bem-estar dos animais, através da sua negligência, seja por não dar suficiente, seja por dar demais?

Mas não se altera hábitos só através (ameaça de) punição. Sendo o problema sobretudo falta de informação (por exemplo, na Inglaterra um terço dos donos de animais de estimação não sabem medir o peso do seu animal), entra aqui a necessidade de medidas ativas de informação junto dos donos. Estas medidas não devem apenas encorajar os donos a fazer bem, devem ainda incluir ferramentas concretas. A Association for Pet Obesity Prevention fornece um tradutor de peso que permite calcular o que um determinado peso representa em termos o excesso de peso em percentagem, e um esquema para monitorizar diariamente alimentação e exercício do animal.

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