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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cães vivos usados como cobaias na Universidade de Évora



A notícia publicada na edição de hoje do JN caiu como uma bomba: o Canil Municipal de Évora tem mantido um acordo com a Universidade de Évora de forma a disponibilizar animais abandonados/vadios para as aulas práticas do curso de Medicina Veterinária. Foram antigos alunos (e actuais veterinários) que denunciaram o facto à comunicação social e as ondas de choque já se fazem sentir com a Bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários a condenar o sucedido e a convocar uma comissão de trabalho sobre o uso de animais no ensino.

A utilização de animais vivos não é exclusividade dos cursos de medicina veterinária (seria até interessante saber qual a situação noutros cursos) mas em nenhum outro a questão se coloca ao mesmo nível. Para se formar um médico veterinário é necessário ter acesso a animais domésticos - caninos, felídeos, suínos, bovinos, caprinos, ovinos e equinos - saudáveis e doentes (para não falar em coelhos, aves e espécies exóticas). Mas que regras se devem seguir para que esta utilização de animais - a meu ver inquestionável - se faça de uma forma eticamente responsável e socialmente aceitável? Voltaremos a este assunto num próximo post. (continua)

15 comentários:

  1. Ao responder a tua pergunta "Mas que regras se devem seguir para que esta utilização de animais (...) se faça de uma forma eticamente responsável e socialmente aceitável?", tem que se ter em conta o que diz a legislação em vigor. E este proibe o uso de animais vadios para fins experimentais.

    No entanto, esta proibição pode não ser éticamente indiscutível, como imagino que vais abordar neste próximo post anunciado, que fico a aguardar!

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  2. Dá gosto ver cientistas comprometidos com o bem-estar animal. os senhores mostram que a Ciência não é incompatível com a Ética, ao contrário do que muitas "bocas" afirmam.

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  3. Boa tarde,

    Enquanto aluna de Medicina Veterinária da Universiade de Évora, fico extremamente escandalizada quando me deparo com notícias destas.

    Em primeiro lugar, gostava apenas de informar que o começo desta situação era com o intuito de divulgar as incorrectas práticas do Veterinário Municipal do Canil Municipal de Évora.
    Para um enquadramento da história consultem: http://www.peticaopublica.com/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=canilev

    Basicamente, quando membros do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Évora fazem tudo para a divulgação deste crime o que sucede é um manipular de argumentos e virar de situações iniciadas por uma "ex-aluna não identificada" e que não apresenta qualquer sustentação para o seu discurso, no que toca à acusação de que são utilizados animais saudáveis nas aulas, animais esses que não seriam de outro modo eutanasiados.

    Para além disso, gostava também de focar que esta realidade não é exclusiva da nossa universidade no âmbito do nosso curso.

    No nosso curso recebemos animais do canil municipal que (supostamente, como seria de esperar e como nós esperamos que assim seja) permaneceram o tempo máximo permitido no canil à espera de adopção.
    Recorremos a estes animais nas nossas aulas para a realização de procedimentos que de outro modo não seriam possíveis, nem seriam ilustrativos de como se devem realizar certas metodologias para uma correcta aplicação prática no futuro, no decurso da nossa actividade profissional enquanto Médicos Veterinários que pretendem salvar e curar os animais.
    São anestesiados e manipulados com o maior respeito, no sentido de infligir o menos stress e sofrimento possíveis. São eutanasiados no termo dos procedimentos enquanto ainda se encontram anestesiados (o que já iria suceder se não chegassem à nossa universidade por irem ser abatidos no canil, só que nesse caso, estariam acordados) …

    A diferença é que, nós, enquanto alunos de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, podemos manifestar-nos quanto às condições em que se processa uma eutanásia de um destes animais no nosso hospital, contudo não podemos inferir acerca da realidade actual do Canil Municipal de Évora e dos actos cruéis e irresponsáveis do Veterinário Municipal.

    Assim sendo, gostava apenas de apelar a que, todos, sem excepção, se interessassem pelo escandalo que se está a passar no Canil Municipal em que os acontecimentos passam pelas mãos de um, enquanto que na universidade passam pelos olhos, mãos e consciência de todos os alunos, professores e funcionários.

    Sem mais,
    Cumprimentos

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  4. Cara aluna, não consigo compreender como é que alguém que supostamente gosta de animais (gostará?) acha razoável torturar cães. anestesiá-los, abri-los, tornar a fechá-los, lálálá sem necessidade para a saúde deles é, pura e simplesmente, torturá-los.
    Como fazer? Como tantas outras universidades. Há uma bem perto da vossa, em Beja. Têm mais trabalho? Talvez. Têm que ir a clínicas assistir a intervenções que, essas sim, são feitas para o bem dos animais.
    O que fazem é inadmissível. É de uma crueldade sem limites. E se vocês, futuros veterinários, não vêem isso, pobres. Vão-se tratar, porque estão muito doentes. Da alma.
    E pobres animais de Évora. Eu, por mim, não levarei nunca um dos meus a algum veterinário que saiba que assistiu a um terror destes achando normal.

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  5. Em todas as faculdades onde decorre o ensino da Medicina Veterinária se usam animais vivos como recursos didácticos, e os mesmos terão que vir de algum lado. Contudo, será também de esperar que a obtenção desses animais cumpra com os mais rigorosos preceitos éticos e legais.

    Há, evidentemente, questões éticas subjacentes ao uso de animais no ensino, a começar pela necessidade e legitimidade de tal prática. No último Congresso de Alternativas e Uso de Animais nas Ciências da Vida, tive a oportunidade de experimentar vários modelos realistas para substituição do uso de animais vivos para prática de suturas, intubações ou auscultação. Na verdade, o leque de sons respiratórios e cardíacos disponível ultrapassava aquilo que a maior parte dos veterinários se depara ao longo de toda a sua vida.

    Agora, se me perguntarem se um modelo substitui inteiramente um animal, a minha resposta terá que ser negativa. Os actuais modelos artificiais são extremamente úteis porque permitem que um aluno pratique os procedimentos que referi até à exaustão e que desenvolva a destreza e competência necessárias na altura de o fazer com um animal vivo, mas não os substituem. Aliás, não levaria o meu cão a um jovem veterinário que apenas tivesse tido contacto com modelos artificiais, algo que considero completamente absurdo.

    Concordo que a melhor abordagem será a de, na medida do possível, fazer os alunos assistir e colaborar em cirurgias marcadas nos hospitais veterinários associados às respectivas faculdades ou mesmo de clínicas que estejam dispostas a colaborar nesse sentido. Mas não vou ao ponto de achar que deva estar completamente fora de questão utilizar animais PROFUNDAMENTE ANESTESIADOS provenientes de canis onde o seu destino seria, indubitavelmente, serem eutanasiados, muitas vezes em piores condições. Muito menos ético seria criar animais especificamente para esse propósito (como acontece com a carne e peixe que alguns de nós comemos diariamente) ou mesmo capturar animais com esse propósito.

    Se os mais elevados padrões éticos e de bem-estar animal forem salvaguardados, penso que o uso de animais dos canis permite, em certa medida, tirar algum benefício da situação dramática que constitui o abandono de animais domésticos. E é nessa situação que devíamos centrar os nossos esforços.

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  6. Fátima Sousa - PGCBEA19 de novembro de 2010 às 22:13

    Esta notícia lida da forma nua e crua como foi apresentada na comunicação social, suscita não só um sentimento de revolta, por parte dos "amigos" dos animais, como passa uma imagem de crueldade, quase atroz, para os interpretes desta cena. Na realidade a primeira impressão é deprimente.....mas porque não analisarmos esta questão sob vários pontos de vista?
    Analisemos, no caso em apreço, a situação relativa ao bem estar destes animais, que na ausência dos seus detentores, ( por vezes irresponsáveis)ou não, e ainda antes de serem apanhados pelas equipas municipais, deambulam errantes, sem destino... sem orientação.... sem alimentação...sem abrigo...sem protecção..., à mercê dos instintos humanos, que consoante a sua sensibilidade, educação, moralidade e seus valores, podem ou não ser afáveis para com estes "seres" que, e julgo estarmos todos de acordo, têm as suas necessidades fisiológicas, etológicas e acima de tudo são sencientes. Não podemos esquecer que o conceito de Bem Estar varia com os valores de cada individuo e está intimamente relacionado com as experiências emocionais do animal com o seu estado orgânico e ainda com a sua própria natureza. Pensemos na enormidade de adversidades que estes animais estão sujeitos quando vagueiam, sozinhos ou em matilhas, pelas ruas de uma cidade.....O que é que eles sentem? Com certeza em muitos momentos existem grandes desequilíbrios entre o seu estado orgânico, a sua mente e a sua própria natureza o que lhes provocará situações com percepções desagradáveis. Poderemos então concluir que esta "liberdade" é sinónimo de bem estar? Onde está a sua qualidade de vida quando sujeitos a toda uma panóplia de situações que eles não conseguem controlar, nem tão pouco se alienar? Julgo sinceramente que não.
    Ultrapassada esta reflexão não tenho dúvidas que estes animais numa situação descontrolada, independentemente do que sentem, constituem um problema de saúde pública que tem de ser ultrapassado. Como? Só o poderá ser com a intervenção de entidades oficiais que detêm estas competências.
    Agora poderemos parar um pouco e pensar como resolver estas questões? Como ultrapassar o facto de ter de alojar muitos e muitos animais, de diferentes origens, em estados orgânicos variáveis (por vezes deploráveis), e por vezes muitos deles com experiências desagradáveis que condicionam o seu comportamento?
    Ao entrarmos neste campo não nos podemos alienar da ética animal. Não nos podemos esquecer que estes animais são sencientes e portanto devemos ter em consideração o que sentem. A melhor forma e a mais prática de avaliarmos uma situação destas é ligá-la aos nossos sentimentos e à nossa moral.
    Imaginemos a existência destes animais dentro de canis (jaulas), em que por vezes não estão asseguradas as 5 liberdades do Bem Estar....e começam a surgir alterações comportamentais inerentes a condições de mal-estar prolongado?
    Porque não pensar que, ao invés de estarem nestas condições, em estado de sofrimento, possam ser "adormecidos suavemente" com a dignidade que merecem?
    E porque não, durante o seu sono infindável e completamente insensível contribuir para que um dia os seus congéneres venham a ser tratados cada vez com mais dignidade, carinho e muito respeito?
    Apesar de tudo o que aqui se disse não poderei, no entanto, deixar de salientar que estas situações terão obrigatoriamente de ser acompanhadas de códigos de conduta ética muito rigorosos que não criem em momento algum nenhuma nebulosa no desenvolvimento destes procedimentos.

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  7. Ana Margarida Costa- PGCBEA20 de novembro de 2010 às 18:45

    À primeira leitura esta notícia deixa uma sensação incómoda e algumas reservas. Alguma coisa aqui está mal, discutível é determinar exactamente o quê.
    Todos nós sabemos que os canis e gatis municipais foram criados para alojar temporariamente os animais errantes e abandonados das nossas ruas. Independentemente das condições que é possível oferecer aos animais enquanto residentes nestes espaços, esse alojamento pode terminar de duas maneiras: ou aparece alguém que os adopte ou, ao fim de algum tempo, se não encontrarem dono, são eutanasiados.
    A primeira questão que me ocorre é a de que forma os animais são eutanasiados quando chega a sua hora. Não tenho a certeza de que esteja sempre salvaguardada a ética em relação a um ser senciente e que o sofrimento e a dor estejam excluídos. Isso depende necessariamente dos valores morais e éticos e da sensibilidade de quem conduz esse procedimento.
    Assim, se um determinado animal, que em determinado momento vai ser abatido, eventualmente em condições menos dignas, puder dar ainda o seu contributo ao ensino da medicina veterinária, parece-me ser uma ideia aceitável. Talvez recebesse carinho antes de ser eutanasiado e acabaria por morrer sem dor ou sofrimento e o DL 276/2001 não estaria a ser desrespeitado.
    Porém não me parece ser este o caso.
    Conta a notícia que eram feitas anestesias sucessivas aos animais com todos os incómodos que isso lhe pudesse causar até se decidir a sua morte ou eram ainda utilizados ou abatidos animais já com processos de adopção a decorrer e, isso sim, no meu entender é inaceitável. Não há ética médica que possa justificar este enorme desprezo pelo bem-estar animal.

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  8. Carla Filipa Teixeira Abreu, PGCBEA20 de novembro de 2010 às 22:39

    "A divulgação desta notícia caiu que nem uma bomba na comunidade veterinária e defensores dos direitos dos animais." A meu ver, e claro não conhecendo as práticas da universidade de évora/canil, municipal esta notícia parece-me um quanto ao quanto exagerada.
    É verdade que há muita coisa a ser mudada, por exemplo nos canis municipais. A recolha de animais de rua tem de ser feita, tanto para o bem da saúde pública como pelo próprio animal, que ao estar na rua, passa fome, frio e por variadissímas agressões. Também é verdade que muitas pessoas que trabalham nestes locais perdem uma certa sensilidade em relação aos animais e investem pouco no bem-estar animal. Para não falar do pouco investimento na promoção de adopções e claro o pouco tempo que dão estes animais para terem a possibilidade de encontrarem uma família. E neste caso é difícil saber, será que o animal está melhor na rua ou num canil em que só lhe dão a hipótese de apenas alguns dias ou se não terão a sua sentença final?
    A eutanásia também é uma questão pertinente que a meu ver não deve ser feita de ânimo leve. Deve-se ter presente que quer o cão quer o gato são seres sencientes que têm sentimentos e como tal esta prática só deve ser utilizada em último recurso.
    Em relação, á hipotética utilização de animais em cirurgias na universidade de évora, podemos pensar que os animais estão anestesiados logo não são submetidos a sofrimento. Mas mesmo não sofrendo será justificável utilizar animais para cirurgias que não tem como principal objectivo melhorar a sua vida? Tudo bem... que os alunos poderao aprender técnicas cirurgicas que aplicaram no futuro. Mas até que ponto é que sendo uma instituição de ensino essa prática será ética ou não?
    Se pensarmos que os animais vão ser irremediavelmente eutanasiados, porque não utilizar estes animais para fins educativos!?
    E se pensarmos que o destino destes animais era inevitável não será preferível ir para a faculdade de medicina veterinária?
    São tudo questões pertinentes, mas a meu ver estes animais poderam de facto ser utilizados para cirurgias mas cirurgias electivas como castrações para posterior adopção. Não concordo que o mesmo animal seja anestesiados váras vezes ou utilizado em cirurgias desnecessárias para ele.
    Também podemos pensar que ao ir para a universidade estes animais poderiam ter mais uma oportunidade para serem adoptados, pois seria um local propício para adopção, sendo pessoas que na sua generalidade adoram animais.

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  9. A lei vigente de protecção aos animais (Lei n.º 92/95, de 12 Setembro), mesmo que incompleta frente aos conhecimentos e práticas dos dias de hoje, afirma serem "proibidos os actos consistentes em (...) utilizar animais para fins didáticos (...) na medida em que daí resultem para eles dor ou sofrimentos consideráveis, salvo experiência científica de comprovada necessidade".
    Ora analisemos a justiça, a ética e a moralidade do acto repetido que deu azo à notícia, utilizando a lógica. Esta prática utiliza animais (vivos!)? Utiliza. É didática? É. Os cães, como nós, humanos, possuem um organismo dinâmico que reage a intervenções invasivas, sofrem com o mal-estar causado por factores externos e internos, sentem dor e medo, têm a capacidade de diferenciar estímulos/fontes/causas de dor e sofrimento e de aprender essa associação? Sim. Nós, humanos, sofremos quando cortados, abertos, remexidos, cosidos e agrafados, quando o efeito da anestesia "mágica" - que só por si já implica um determinado risco para a integridade do organismo - começa a passar? Sim. Somos donos e senhores das vidas dos animais que abandonámos e/ou que nos recusámos a adoptar e que aprenderam a sobreviver por conta própria e com relativos bem-estar e saúde? Não. Seria legítimo irmos buscar reclusos aos nossos estabelecimentos prisionais para servirem de cobaias nas aulas práticas de futuros médicos mais treinados e competentes, e para diminuirmos o número de casos de negligência médica em Portugal? Se somos uma sociedade que acredita realmente ser justo, ético e moralmente correcto usar cães vivos e saudáveis como cobaias de corta-abre-mexe-cose-mata, então questiono-me...

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  10. Caro Anónimo/a

    Confesso que me senti baralhado com esta sua intervenção, pois cita a legislação portuguesa para condenar uma prática que não a viola, de todo. Como citou, não é permitido o uso de animais para fins didácticos se tal resultar em dor ou sofrimentos consideráveis. Assim, sendo estes animais profundamente anestesiados e sendo essa anestesia terminal (ou seja, os animais nunca recuperam da mesma, já que no final lhes é administrada uma sobredose), o seu uso nestas aulas não viola a lei vigente. Antes pelo contrário. Não há, portanto, sofrimento associado à diluição do tal “efeito mágico” da anestesia.
    Quanto à questão de sermos “donos e senhores” das vidas destes animais, tal é, de facto, verdade. Somo-lo desde que os começamos a domesticar a partir de lobos asiáticos há dezenas de milhares de anos. Outros dirão que tal não constitui posse e domínio, mas antes que estabelecemos uma parceria com benefício para ambas as espécies. E os cães beneficiaram muitíssimo, se olharmos para as centenas de milhões de cães hoje existentes, em claro contraste com o dos seus ancestrais lobos. Mas isso não torna menos verdade que dominamos claramente sobre eles e decidimos o seu destino. Comem, dormem, saem, fazem as necessidades, reproduzem-se, recebem tratamento médico quando e como queremos e nos convém. Se surge o conflito entre prolongar a vida ou eutanasiar, por exemplo, não vale a vontade do animal, mas sim a do dono, que procurará interpretar o que é do melhor interesse para o animal (ou para ele próprio, muitas vezes). Se o devemos continuar a fazer ou não cabe a cada um decidir por si e agir em conformidade. Aliás, eu próprio me interrogo muitas vezes como os mais acérrimos defensores dos direitos dos animais não se apercebem da contradição entre a adesão a semelhante causa e terem animais de companhia. Por mais voltas que se dê, são as pessoas que decidem sobre a vida do animal, em claro desafio do direito que esses animais têm de fazer as próprias escolhas. Percebo que se indigne pelo facto de animais vadios serem levado para canis, atendendo a que, como diz, os mesmos “aprenderam a sobreviver por conta própria e com relativos bem-estar e saúde”. Mas a verdade é que tal não corresponde à verdade. Consulte qualquer associação protectora dos animais e dir-lhe-ão que os animais vadios sofrem de má-nutrição, doenças parasíticas e outras, hipotermia, stress crónico, agressões, atropelamentos, intoxicações, etc. Há ainda muitos outros factores a ponderar, como sendo os da saúde e segurança públicas. Será a actual política de gestão deste problema a melhor? Provavelmente não, mas isso é outra questão.
    Quanto à proposta de usarmos reclusos em escolas médicas, que faz ironicamente para sugerir que tal seria similar ao actual uso de cães em escolas de veterinária, não a compreendo e só me pergunto porque é que escolheu presidiários e não "pessoas que comentam blogs"? Isto é, de que forma é que presidiários e cães são semelhantes?

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  11. Caro Nuno

    Começo por agradecer-lhe por ter respondido ao meu comentário e primeira experiência num blogue!
    O uso de cães vivos realmente não viola a lei nacional actual; mas poder-se-á afirmar que a respeita totalmente, quando o adjectivo "considerável" não é quantitativamente mensurável e quando não há juíz imparcial a determinar o que é ou não sofrimento considerável?
    Admito não conhecer os pormenores dos procedimentos e, portanto, ter feito um juízo errado ao associar sofrimento e dor ao final dessas intervenções didáticas nas universidades. No entanto, tratando-se de exercícios de aprendizagem por estudantes, garante-se que a dor e o sofrimento físicos desses cães-cobaia sejam constantemente monitorizados e controlados, sem falhas, sempre?
    Se a etologia contemporânea veio mostrar-nos que os cães (assim como outros animais) são seres sencientes, devemos ignorar o medo e stress - que comprovadamente provocam elevado nível de sofrimento - a que estes cães são sujeitos quando levados do canil para as instalações "laboratoriais"?
    O ser humano é gregário mas instintivamente egoísta - ou não teria tido tanto sucesso na sua sobrevivência e reprodutividade; assim sendo, domesticou o ancestral do cão muito mais motivado pelos próprios interesses e por oportunismo do que pela intenção de lhe ser um amigo fiel. Se humano e cão ganharam ambos com a relação de cooperação, o "favor" está pago e não há devedores nem dívidas, pelo que não acho aceitável que nos consideremos donos e senhores de todos os cães domésticos que existem no mundo nem que possamos fazer-lhes tudo o que queremos quando queremos só porque somos a espécie animal mais dominante (não em número de indivíduos, mas em poder) e dominadora no nosso planeta.
    Claro que um cão, especialmente aquele que já teve um lar, sofre na rua, onde não há segurança, conforto ou alimento garantidos. Mas as condições dos canis e das instalações das associações zoófilas são precárias e não conseguem ainda proteger todos os seus animais da hipotermia, da mal-nutrição, de doença e da agressividade dos indivíduos dominantes em relação aos mais fracos(nos espaços partilhados/comuns).
    Por último, a analogia aos reclusos era apenas uma metáfora - nunca uma proposta! - baseada no facto de tanto os reclusos como os cães nos canis serem indivíduos postos à margem da sociedade.

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  12. Em determinadas situações a palavra eutanásia está correctamente aplicada, uma vez que a sua aplicação se destina a proporcionar ao animal um fim sereno, rápido e indolor, ou seja, está-lhe a ser facultada uma "boa morte". Pois a palavra eutanásia, vem do grego, e significa "boa morte". Ela é assim um acto misericordioso, destinado a animais com doenças terminais, em sofrimento, em que a sua qualidade de vida se está e deteriorar.
    Em Portugal existem muitos canis municipais, que não possuem condições de bem estar animal, nem recursos financeiros para fornecer essas condições, recorrendo à eutanásia como forma de controle dos animais recolhidos, sendo esta uma das formas mais humana de os auxiliar, dando-lhes a merecida paz após uma vida de sofrimento, uma vez que estes animais vivem em condições degradantes (alojados em pequenos espaços, sem cuidados de higiene, mal alimentados, deprimidos, aterrorizados, sujeitos a doenças e ferimentos). No entanto existe outra forma de controlar a sobrepopulação dos animais errantes ou da sobrelotação das associações de protecção animal, canis e gatis municipais, que é recorrendo à sua esterilização/castração.
    Como Enfermeiro Veterinário acho que a prática de eutanasiar deve ser apenas praticada em casos extremos. Compete assim, aos Médicos Veterinários determinar o "abate" nestas situações, após uma avaliação criteriosa, caso a caso. Pois viver em tais condições não é viver, mas sim sofrer.
    Neste caso concreto considero que Universidade de Évora teve uma atitude correcta ao utilizar os animais errantes nas aulas práticas de cirurgia, de modo a que os seus alunos pudessem praticar esterilizações/castrações (sendo estas vigiadas pelos professores que possuem prática na área), trazendo assim benefícios para os animais (controlo da sobrepopulação) e também para a saúde pública (controlo de zoonoses), podendo estes ser adoptados posteriormente. Para além disso torna-se também benéfico para os alunos de Medicina Veterinária, uma vez que de outro modo não seria possível a realização destes procedimentos, nem seriam elucidativos de como se deviam realizar as cirurgias para uma correcta aplicação na prática futura. Infelizmente, em Portugal, não existe regulamentação específica para a utilização destes animais no Ensino Superior. No entanto relativamente aos animais serem eutanasiados após a cirurgia, reconheço que esta é uma prática incorrecta em Medicina Veterinária, uma vez que a esterilização/castração é uma solução para controlar a sobrepopulação dos animais errantes. Como tal, fiquei efectivamente chocado com a notícia, quando esta foi comunicada ao público, através da comunicação social.
    Segundo o meu ponto de vista, o Médico Veterinário (responsável pelo canil municipal), devia ser punido (julgo que tal não aconteceu, e o mais provável é terem sido as Médicas Veterinárias a pagarem a factura por terem denunciado o caso). No entanto, penso que a Universidade de Évora também é cúmplice, por ter participado em tal acto, revelando assim ambas as entidades desprezo e ausência de respeito pela vida dos animais.
    Espero que enquanto pessoa que ama os animais e se preocupa com o seu bem estar acima de tudo, procuro condenar e combater tudo aquilo que ameace ou ponha em causa a vida dos animais.
    Para desfecho deste comentário gostaria de parafrasear Charles Darwin " Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais...os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento" logo devemos respeitar todos os animais.

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  13. Caro André,
    obrigada por seu comentário que vou tentar reformular nos seus pontos principais:

    Primeiro, define que
    1. eutanasia=boa morte será um acto misericordioso nos casos em que uma boa vida não é opção
    2. muitos caneis municipais não têm condições para oferecer uma boa vida para os animais

    Tendo em conta 1 + 2, conclui que eutanasia dos animais destes canis municipais é "uma das formas mais humana de os auxiliar, dando-lhes a merecida paz após uma vida de sofrimento, uma vez que estes animais vivem em condições degradantes"

    Após essa conclusão faz a observação que
    3. existem uma alternativa para animais abandonados que é esteriliza-los. Não específica o que deve acontecer com os animais após esterilização, mas uma vez que em geral não aceitamos cães vadios nas areas urbanas imagino que encontrar-lhes um novo dono será a opção.

    Depois conclui que a Universidade de Évora fez bem em fazer com que os animais foram esterilizadas mas mal em depois eutanasia-los.

    Pode esclarecer a diferença entre o seu julgamento no caso geral que descreve no início do seu texto (em que considera eutanasia como o melhor que se pode fazer com os animais em muitos canis municipais), e no caso concreto de Évora (em que condena o acto de eutanasia)?

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  14. Como digo, no comentário, concordo com a eutanásia realizada nos canis municipais, devido a esta ser a forma mais humana de os auxiliar, dando-lhes a merecida paz após uma vida de sofrimento, uma vez que estes animais vivem em condições degradantes.
    No caso concreto da Universidade de Évora, condeno o procedimento eutanásia porque é eticamente incorrecto utilizar os animais como cobaias e eutanasiá-los, quando num curso de Medicina Veterinária se formam pessoas para cuidar do bem estar animal.
    Também refiro no comentário anterior, que em alternativa os animais podiam ser esterilizados/castrados pela Universidade de Évora para vantagem dos próprios animais e dos alunos de Medicina Veterinária para praticarem as cirurgias. Assim, após este procedimento, em vez de os animais serem eutanasiados, seriam adoptados com maior facilidade, fomentando uma campanha de adopção/esterilização. Pois desta forma todos os animais seriam doados e esterilizados, diminuindo com isto, o risco futuro de superpopulação e o abandono dos filhotes. Logo em vez de ser realizado o procedimento cirurgia/eutanásia devia ser realizado o procedimento cirurgia/adopção de modo a que o animal fosse encarado como um ser vivo e não como um ser inanimado, não dando importância à sua vida, ficando o bem estar dos animais em segundo plano.
    Parafraseando Leonardo da Vinci "Chegará um dia em que o homem conhecerá o intimo dos animais. Nesse dia um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade".

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  15. André. este o seu segundo comentário tem uma frase absolutamente central "quando num curso de Medicina Veterinária se formam pessoas para cuidar do bem estar animal".

    Por um lado, é legítimo questionar se, face ao facto de que se eutanasia diariamente cães nos canis pelo país fora, não se pode aproveitar este facto para dar aos alunos a possibilidade de práticar em animais vivos, uma vez que estes animais não têm nada a perder com isto (sendo que de qualquer modo estão prestes a perder a vida com ou sem a prática).

    Mas por outro lado, temos que perguntar qual a atitude que se deve transmitir aos alunos, considerando que aqui parece possível que os animais possam de facto ganhar, no sentido de ser preparados para adoção. (No entanto, uma pergunta importante que não se tem discutido tanto é qual o real potencial para adoção. Quantos dos animais abandonados em Portugal que podem recuperar a sua saúde são de facto adotados?)

    Felizmente, os alunos aqui mostram capacidade crítica e de acção. Mesmo se quem manda tome decisões menos bem pensadas, outras pessoas podem inverter o sentido.

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