"Some animal advocates don’t like the word ‘pet’. They find it demeaning to the animals we live with. They want us to call our furry, finned and winged friends companion animals and their owners guardians. (…)
I don’t particularly like the word companion animal. Many pets are not true companions. When my friend Joe Bill was a child, his favorite pet was a crawfish that lived in a bowl next to his bed. Pet? Yes. Companion? No?
Substituting the term guardian for pet owner is also problematic. Unlike the guardian of a human child, a pet’s guardian is allowed to give away, sell, or sterilize their ward against its will. They can even have their companion animal euthanized if they tire of it. The terms companion animal and pet guardian are linguistic illusions that enable us to pretend we do not own the animals we live with"
A argumentação é do Hal Herzog, psicólogo norte-americano que teve um papel pioneiro no desenvolvimento da investigação das interacções entre humanos e outros animais, human-animal studies, e a citação do mais recente livro dele Some we love, some we hate, some we eat.
O termo pet não é limitado para os animais que partilham a nossa vida e tem um uso mais geral para descrever algo que é tratado com especial carinho. É também um verbo: to pet somebody quer dizer dar festinhas a alguém (não deve ter sido isso que Joe fez com o peixe). Enquanto a distinção entre dono e guardião é igualmente relevante para o português, o termo predominante parece claramente ser animais de companhia e não, por exemplo, mascote.
Preciosismos linguísticos à parte, há aqui uma questão de natureza moral. Hal Herzog acha que a realidade é a realidade e não vale a pena pintá-la de cor-de-rosa. Mas será que é isto que os activistas pretendem, ou querem propor uma alteração de terminologia a ser seguida por uma alteração de prática?
Somos tanto donos dos nossos animais de companhia como somos de uma bicicleta ou de uma cadeira?
A questão semântica coloca-se mais facilmente na língua inglesa do que na língua de Camões. Cá ninguém usa o termo mascote (ao contrário de Espanha) para designar um pet e mesmo no Brasil, pelo que sei, o termo predominante também é animal de companhia. Quanto à questão do significado, eu próprio não me sinto confortável coma a palavra dono. Não se é dono de um cão como se é de uma cadeira. Somos responsáveis por ele, podemos vendê-lo, e até eutanasiá-lo mas nunca se é verdadeiramente dono de outro ser vivo. E a meu ver, a questão coloca-se na mesma medidas para outras formas de vida além dos pets: imaginemos que eu sou dono de um terreno. Isso significa que eu sou dono de todas a formas de vida que lá existem? Dos insectos, das árvores, dos pequenos vermes? Penso que não e o critério, pegando nas palavras do filósofo biocentrista Paul Taylor, reside "nada menos do que na condição de estar vivo."
ResponderEliminarNão somos donos de um animal da mesma maneira que não temos a posse dos nossos filhos, não obstante a forte ligação afectiva e responsabilidade legal. Contudo, as crianças crescem e eventualmente tornam-se não só auto-suficientes como também imputáveis, ao passo que os restantes animais não. Assim que assumimos a guarda de um animal, seja porque razão for, devemos agir mais como tutores, responsáveis legais e companheiros. Digo eu...
ResponderEliminarO mesmo pode ser extrapolado para a questão do domínio sobre a natureza, algo que deriva da filosofia/teologia Judaico-Cristã. Albert Schweitzer , (prémio nobel da Paz e, acima de tudo, homem extraordinário) mudou essa perspectiva, ao propôr que este "domínio" devia ser entendido como guarda, vigilância e responsabilidade perante a Vida, ao invés de exploração da mesma.