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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Animais desnaturalizados?

Acabamos de chegar de um workshop sobre ética animal nos Açores, onde dois de nós tivemos a oportunidade de debater uma série de assuntos relacionados com os animais na nossa sociedade contemporânea. Em total, mais do que 70 pessoas participaram nos dois 'shows' (um na Terceira e outro em São Miguel) e o evento foi realmente um grande sucesso, com muitos debates entusiastas e inteligentes. Como é sempre o caso num bom encontro de filosofia e de ciência, há discussões que não terminam, perguntas que continuam a pedir respostas, e algumas destas esperamos trazer para o animalogos.

Os quatro tipos de interações humano-animal discutidos no workshop trazem discussões bastante diferentes. Nos dois temas abordados por nós - produção intensiva e experimentação animal - há uma tensão evidente entre interesses humanos e animais. Isto também se aplica ao terceiro caso - gestão da caça e da vida selvagem – embora aqui se trate de curtos encontros mais do que de uma duradoura convivência. (Esperamos voltar mais tarde a este tema, no workshop abordado pelo Nathan Kowalsky da Universidade de Alberta, Canadá).

O caso de animais de companhia difere dos outros três de várias maneiras. Primeiro, o contacto entre humanos e animais é muito mais próximo e duradouro. Falamos de indivíduos que vivem sob o mesmo tecto, às vezes até dormem na mesma cama. Segundo, se há uma tensão entre os interesses, é muito menos óbvio em que consiste. Afinal de contas, seria de esperar 1) que as pessoas mantenham animais porque tem amor por eles, e 2), uma vez que os amam querem o melhor para eles. Então, qual é realmente o problema, se houver um?



Inspirados nos problemas levantados por um dos outros oradores no workshop, Professora Maria do Céu Patrão Neves, da Universidade dos Açores, elaboramos a seguinte lista de situações de potenciais controvérsias com seres humanos e animais de companhia.

Convidamos os leitores a pensar sobre cada uma delas. Existe um problema? Se afirmativo, em que consiste e para quem é um problema?
  1. um gato que se chama José e uma gata que se chama Maria
  2. um cão que dorme na cama do dono
  3. um cão que está sempre no quintal sem nunca interagir com os donos que apenas o mantêm (e do qual têm medo)
  4. um periquito que está numa gaiola na cozinha
  5. um casal em processo de divórcio que pede para eutanasiar o gato que tinham oferecido, entre si, como prenda de casamento
  6. cães que devido à preferência para determinadas características estéticas de alguma raças sofrem de graves problemas de saúde
  7. um casal que depois de um divórcio partilha a guarda da cadela que compraram quando casaram
  8. um cão que veste um gabardina quando passeia num dia de chuva
  9. um cão que apenas sai do apartamento no domingo e só se estiver bom tempo
  10. um cão vegan
  11. um husky siberiano num apartamento de 70 m2
  12. uma decoradora de interiores que usa corante de cabeleireiro para que o caniche fique a combinar com o sofá

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

És um Animal, Viskovitz ! - Breve Recensão


Alessandro Boffa
És um animal, Viskovitz!
Tradução: Tiago Guerreiro da Silva
LIVRODODIA Editores, Torres Vedras, 2010

"Por ela já tinha perdido a cabeça". Assim termina a sintética história da vida - efémera mas intensa - de Viscovitz, um jovem louva-a-deus apaixonado (pode lê-la aqui). Esta é apenas uma das 20 fábulas em que Alessandro Boffa recorre ao lugar comum, ao cliché, para depois o desconstruir e assim criar cenários risíveis mas inteligentes sobre as vidas de outros tantos animais. Biólogo de profissão, o autor alia conhecimento científico a imaginação, de modo que, mesmo não sabendo o que é um mantídeo, o leitor não teria dificuldade em identificar a que animal pertence o anterior ritual de acasalamento.

Viscovitz é um personagem eminentemente humano - um anti-herói ? - mas que se metamorfoseia sucessivamente de escorpião a formiga, de camaleão a cão, na busca continuada pelo amor de Ljuba. Esta pulsão sexual é a linha que une todos os quadros retratados e somos assim introduzidos, através do humor, ao difícil mundo da reprodução animal (as desventuras do caracol e do tentilhão são verdadeiramente hilariantes). E, na verdade se pensarmos em termos evolutivos, é isso que conta para a sobrevivência da espécie. Incluíndo a nossa. Já Aristóteles, em História dos Animais, escrevia:

"A vida dos animais pode, então, ser dividida em dois actos: procriação e alimentação; Pois é nestes dois actos que se concentram todos os seus interesses e toda a sua vida. (...) E como tudo o que é conforme com a natureza é agradável, todos os animais buscam o prazer, mantendo a sua natureza.”
Historia Animalium, Livro VIII

Originalmente publicado em 1998 em língua italiana, "Sei una Bestia, Viscovitz!" é um sério trabalho de entretenimento que fará as delícias de todos aqueles que se interessam pelo mundo natural. Nota ainda para o excelente trabalho de tradução de Tiago Guerreiro da Silva já que, apesar da profusão de termos técnicos, o texto não perde a sua melodia e simplicidade.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Animalogos no Ensino

O Animalogos está a preparar-se para poder prestar apoio a professores em todos os níveis de ensino que queiram abordar os tema do bem-estar e ética animal nas suas aulas.

Está interessado? De que forma e para que nível de ensino? Precisamos de ouvir a sua opinião para poder ajudar melhor – contacte-nos através de olsson@ibmc.up.pt!


Para os residentes no Grande Porto, temos também um programa de visitas de escolas ao IBMC, onde é dada (aos alunos do 9º ano e Secundário) uma introdução teórica ao tema seguida de debate sobre o uso de animais na investigação e os aspectos éticos relacionados. Pode saber mais sobre as visitas e inscrever-se aqui.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pode um cão ser vegan ?


A passada edição da revista VISÃO (13-10-2011) publicava uma curta reportagem sobre indivíduos vegetarianos que decidiram incluir os seus animais de estimação no mesmo regime alimentar. O argumento por detrás de tal decisão é a coerência : todas as rações para cães e gatos de estimação são feitas a partir de produtos e sub-produtos da transformação animal e provenientes, na sua larga maioria, de explorações intensivas. Alguém que se abstém de consumir carne e derivados e vive na companhia de um cão ou de um gato (ou de um furão...), não deve ficar indiferente a este facto.

A minha primeira impressão ao ler esta rúbrica foi a de que modificar o regime alimentar de animais a bem das nossas opções éticas (e estéticas, na medida em que não comer alimentos de origem animal é também uma afirmação de um estilo de vida) seria atentar contra o seu telos, contra aquilo que faz um cão ser um cão e um gato ser um gato ou, segundo as palavras de Bernard Rollin, "the dogness of the dog, the catness of the cat". Na natureza, cães e gatos são animais carnívoros (tendencialmente omnívoros no caso dos cães e carnívoros estritos no caso dos gatos) e privá-los dessa característica, colocando em risco a sua saúde, a bem da coerência das nossas próprias acções pareceu-me, à primeira vista, frívolo e perigoso.

Mas uma reflexão mais atenta fez-me dar um passo atrás. Não há nada de natural nas dietas comuns dos nossos animais de estimação (basta ler um rótulo) e uma grande proporção dos seus ingredientes são, de facto, de origem vegetal. Pelo menos enquanto não houver dados que permitam tirar conclusões sobre o efeito de rações vegetarianas na saúde de cães e gatos, muitos poucos argumentos poderão ser apresentados a seu desfavor. Além disso, a indústria da pet food, por ser menos exigente em termos de qualidade das suas matérias-primas, é em grande medida responsável pela perpetuação de práticas de produção pecuária agressivas para o bem-estar dos animais em causa, o que me faz pensar que a existência de alternativas pode alertar o consumidor para a origem dos ingredientes da ração que dá ao seu pet.

Deixo este texto inacabado. Espero contribuições dos animalogantes para o desenvolver.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

As "cãominhadas" - Activismo Animal solidário e não-associativo

Nem todo o activismo pelos animais consiste em grandes manifestações, campanhas polémicas ou actos ilegais. Aliás, não obstante a pior faceta de algum activismo animal ser a que tem mais destaque, a maior parte dos activistas opta por uma acção pacífica, imaginativa, didáctica, verdadeiramente solidária e, assim, realmente produtiva e com impacto directo na vida e bem-estar dos animais.

Um exemplo deste tipo de actividade são as "cãominhadas", que nada mais são que passeios organizados de cães e seus donos, nos quais os mesmos dão uma doação para um abrigo de animais (ou outro projecto), que pode ser sob a forma de géneros ou dinheiro. O que mais me cativa nestes eventos é o facto das "cãominhadas" se poderem organizar de forma espontânea em qualquer parte do país, por iniciativa de particulares e com recurso às redes sociais, sem a intervenção de quaisquer associações de protecção aos animais ou outra estrutura organizada.

CÃOMINHADA a favor da Assoc. Senhores Bichinhos - 1 Out 2011
Parque da Cidade (Porto) Cerca de 45 participantes.
Resultado final: 200€ + 3Kg ração gato + 1 casota + 2 mantas
A propósito das mesmas, pedi a uma antiga colega de curso, Manuela Vilares - actualmente colaboradora de projectos europeus na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, filiada no PAN e grande entusiasta e dinamizadora destes eventos - que me dissesse um pouco mais acerca da sua experiência como organizadora de "cãominhadas".

Manuela Vilares
MV - As cãominhadas consistem num passeio a pé em que quem tem cães já sabe que pode e deve levar o seu cãozito. Se forem animais já muito idosos, os donos costumam preferir não os levar ou então fazem com eles só metade do percurso (nas que eu organizo o passeio costuma ser de 2h, 1h para um lado e 1h para o outro. Se o cão for muito idoso ou doente mas de porte pequenino, costumam trazê-los ao colo.
Todos os animais têm obrigatoriamente de ser conduzidos com trela, de acordo com a lei e os que são de raça perigosa (e os que não são mas que possam representar algum perigo) vêm de açaime. Claro que os donos, de vez em quando, tiram o açaime para lhes darem água e para o animal respirar um bocado melhor.
Geralmente, o objectivo destes eventos é ajudar a angariar fundos para alguma causa. A maior parte das que organizei foram para ajudar associações animalistas que ajudam animais de rua ou animais dos canis mas também já organizei uma a favor da Loja Social de Paranhos em que as pessoas eram convidadas a levar produtos alimentares de valor, no mínimo, 3€. Nas que tenho organizado a favor dos animais, o custo de participação é de 3€, que reverte na íntegra para a associação/projecto e quem quiser pode levar também ração. Nas que eu organizo, quem não tiver possibilidades de pagar os 3€ pode participar na mesma, mesmo que não leve nada.
Para além da faceta benemérita das cãominhadas, Manuela Vilares apresenta ainda outros importantes benefícios destes eventos:

MV - As cãominhadas proporcionam um excelente momento de convívio entre pessoas que partilham as mesmas preocupações pela causa animal/ambiental/humanitária. Costumam aparecer pessoas de diferentes associações, o que é óptimo porque se ficam a conhecer e muitas vezes trocam contactos para se ajudarem em determinadas situações (isto é muito importante porque infelizmente a maior parte das associações trabalham sozinhas e não têm à vontade para pedir ajuda a outras associações). Em quase todas vêm sempre alguns animais que estão para adopção e às vezes conseguem-se adopções, e já até houve casos de pessoas que trouxerem fotografias de gatos que tinham para adopção e conseguiram adoptantes.

Conhecem-se sempre novas pessoas e novos cães. São um excelente momento de convívio com a natureza, onde se faz exercício (numa altura em que as pessoas e os seus animais são cada vez mais sedentários) e se apanha sol (coisas que as pessoas das grandes cidades que trabalham muitas horas por dia raramente fazem e que é fundamental, para gerar vitamina D) porque geralmente são sempre realizadas à beira-mar, à beira-rio ou em espaços verdes amplos.
Costumam vir crianças, também, o que é óptimo, e para além de tudo isto ainda se ajuda uma determinada causa.



Há benefícios neste modelo de organização das "cãominhadas" por iniciativa de indivíduos, ao invés de associações, que originalmente promoviam estes eventos.

MV - Já existem cãominhadas há alguns anos mas eram poucas porque geralmente eram organizadas por associações e perdiam sempre muito tempo porque pediam patrocínios, envolviam as câmaras, divulgavam em vários meios de comunicação, etc... ou seja dava-lhes tanto trabalho que só organizavam de vez em quando. Eu, com a ajuda do facebook, tenho conseguido organizar cãominhadas para todos os sábados e todos os domingos na zona do Grande Porto, desde Julho. Já ajudei a organizar três em Lisboa, uma em Aveiro e estou a ajudar a organizar uma em Setúbal. Agora vou passar a marcar só uma cãominhada por fim-de-semana porque o tempo vai começar a piorar e assim, sempre que chover adia-se. Vou também começar a organizar jantares solidários, sempre em restaurantes vegetarianos, claro, para promover o vegetarianismo e ajudar a divulgar os imensos restaurantes vegetarianos que existem e que são pouco conhecidos.

Sendo um tipo de actividade que exige iniciativa individual, não é raro, contudo, que muitos peçam a outrem para organizarem cãominhadas na sua área de residência, ainda que o esforço logístico seja pouco. Será isto reflexo de desconhecimento da actual natureza da iniciativa destes evento, ou mero laxismo?

MV - Não pertenço e nem quero pertencer a nenhuma associação animalista nem humanitária porque quero continuar a tentar ajudar todas (claro que nunca vou conseguir ajudar todas mas tento ajudar o máximo de associações/projectos que conseguir). Ajudar a divulgá-los é muito importante e fazer com que se conheçam uns aos outros e comecem a colaborar mais uns com os outros é fundamental para todos, animais e humanos. Gostava mesmo que houvesse mais gente a fazer o que eu faço. Faço isto nos meus tempos livres. Gostava que houvesse mais gente a organizar eventos de convívio solidários pelo país fora e que depois me dissessem o link do evento no para eu adicionar à página do calendário geral que criei no Facebook.
Há muita gente que pergunta "porque não organizam aqui, porque não organizam ali... ?", e às vezes dá-me vontade de responder "e porque não organiza você? Eu não consigo fazer tudo!" . Mas claro que não digo. Eu sei que as pessoas não dizem por mal., mas sinceramente fico irritada quando me vêm com comentários a dizer "organizem também cãominhadas em Paços de Ferreira", "organizem em Aveiro"... "pensem nisso"... "porque organizam só no litoral?"... organizem aqui, organizem ali... "

Portanto, já sabe, se quiser fazer algo pelos animais na sua área de residência, de um modo económico, divertido e saudável, porque não organiza uma "cãominhada", um jantar ou qualquer outro evento que fomente o convívio para ajudar os que mais precisam (pessoas ou animais)?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Hoje é Dia Mundial do Animal (não-humano)!

Hoje é Dia Mundial do Animal. Segundo o site worldanimalday, pretende-se com a comemoração deste dia celebrar a vida sob todas as suas formas e a relação do Homem com o restante Reino Animal, reconhecendo a importância que os animais têm no enriquecimento da nossa experiência humana. A data de 4 de Outubro foi escolhida por ser o dia dedicado pela Igreja Católica a São Francisco de Assis, padroeiro dos animais..

Este dia será assinalado por todo país através da realização de várias actividades, por iniciativa de municípios, organizações de defesa dos animais e jardins/parques zoológicos.


Da minha parte, sugiro que celebremos este dia fazendo algo por um ou mais dos animais que temos à nossa volta. Não custa nada investir algum tempo para um carinho, uma sessão de brincadeira,  uma guloseima para o nosso cão, gato, rato, periquito, etc. Também podemos aproveitar a ocasião e contribuir com uma pequena doação para um abrigo de animais na nossa área de residência. Os animais agradecem...