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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Debate: leite espanhol abaixo do preço do produtor no Continente

Por George Stilwell

É pena que uma cadeia que vende a imagem como sendo protectora da produção nacional e dos agricultores portugueses, não tenha noção de vergonha e venda leite exclusivamente vindo de Espanha a um preço três vezes abaixo do preço pago ao produtor.

A cadeia CONTINENTE está a vender embalagem de 1,5 litros de leite espanhol a 0,78 € sobre o qual incide o desconto em cartão de 75%, ou seja, está a vender leite espanhol a 0,13 € por litro. Esta atitude poderá levar à falência muitas empresas familiares de produtores de leite, muitos deles já a viver momentos muito difíceis devido ao elevado preço dos factores de produção e ao baixo preço pago pelas empresas de lacticínios. Se o Continente quer atrair clientes – mesmo que a custa de algum prejuízo – que tenha a coragem (e coerência) de o fazer enquanto ajuda Portugal e a agricultura portuguesa.




De pouco vale fazer feiras na Avenida da Liberdade a favor dos produtores portugueses e depois traí-los ao mínimo sinal de lucro. Usar os produtores para publicidade fácil e enganosa é uma grande falta de ética.

6 comentários:

  1. A verdade é que o mesmo argumento do desconto se aplica a outros produtos. Será que podemos dizer que sempre que o Continente faz um desconto em cartão de 75%, está a vender esse produto a um quarto do preço? Não me parece, porque a pessoa paga o leite na totalidade (já agora, o preço base do leite espanhol não é inferior ao do leite português) e o desconto só tem efeito na compra seguinte em que, aí sim, pode ser aplicado em qualquer produto. Por outras palavras, o Continente paga aos seus clientes para lá voltarem e usa como chamariz produtos sazonais e/ou perecíveis (em Dez. era o bacalhau, agora é o leite).

    A meu ver, as questões que se põem são estas: 1) deve uma empresa que cultivou uma imagem de responsabilidade social para com a produção nacional vender leite espanhol, sendo o nosso país auto-suficiente em termos de leite? e 2) existirão produtos que, devido às suas características, deveriam estar protegidos desta agressiva estratégia de vendas?

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  2. O Jornal Público noticia hoje que a ASAE já está a averiguar o caso: http://economia.publico.pt/Noticia/asae-fiscaliza-precos-do-leite-nas-grandes-superficies-1528894

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  3. Ainda que, neste caso concreto, possa não haver um problema real de "dumping" (já que o desconto é dado posteriormente para fins promocionais e o consumidor paga o valor por inteiro no acto da compra), esta é uma questão que convém analisar, em abstracto.

    Ainda que reconheça a importância da questão económica e da ética empresarial, permitam-me balizar o meu raciocínio na questão do bem-estar dos animais. Ou seja, que repercussões no bem-estar animal poderão advir da sistemática descida do leite?

    O abaixamento do preço do leite que tem vindo a ocorrer há já algumas décadas resultou do melhoramento do output de leite por cada vaca, conseguido através de novas formulações de ração, mecanização da ordenha, criação intensiva e melhoramento genético. No entanto, o reverso da medalha é que este incessante abaixamento do valor de venda do leite e a concorrência por competidores estrangeiros exerce pressão adicional aos produtores para baixar ainda mais os custos de produção por cada litro vendido, o que está a levar, por um lado, a que as produções em regime extensivo percam viabilidade financeira, e que as de regime intensivo tenham vindo a intensificar cada vez mais a produção, com sérias consequências para o bem-estar dos animais.

    Este é um ciclo vicioso que apenas poderá ser quebrado se mudar a atitude do consumidor final, no sentido de privilegiar as condições de bem-estar dos animais de onde provém o leite, ao invés de apenas considerar o preço como critério para as suas escolhas.

    Não há, contudo, um real interesse da maior parte dos distribuidores em valorizar o bem-estar dos animais como uma mais-valia dos seus produtos, nem um sistema de classificação que permita categorizar todos os produtos de origem animal segundo este critério. A Anna já apontou um possível caminho (http://animalogos.blogspot.com/2011/09/podemos-privatizar-o-bem-estar-animal.html) mas sem a vontade dos empresários para criar ou alargar este segmento do mercado, a qualidade de vida dos animais será sempre, para os consumidores, uma questão ignorada.

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  4. Concordo plenamente com o Nuno e expressar a minha opinião seria repetir a sua excelente exposição.

    No entanto, gostaria de lançar um desafio a Zootécnicos e Veterinários. Que partilhassem aqui algumas das experiências vividas diariamente no terreno e na realidade dos produtores de leite, de forma a que o público em geral perceba que o abaixamento do preço do leite tem graves consequências para os produtores mas também para o bem-estar animal...

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  5. Por ocasião da edição do livro "Dairy Herd Health", Martin Green faz uma crítica, em forma de apelo, à insustentabilidade do preço do leite no Reino Unido. O argumento do Prof. Green é antropocêntrico mas justo: para melhorar a saúde e o bem-estar da vaca leiteira é preciso cuidar primeiro dos nossos produtores.

    http://www.cabi.org/default.aspx?site=170&page=4907&dm_i=VZZ,WKMB,4JKQNL,2P4HY,1

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  6. Claro.

    Era preciso comunicar de uma forma forte, clara e de uma frente unida que preços baixos de produtos de pecuária é dizer que sim a animais mal cuidados.

    Os agricultores, os restantes técnicos do setor e as associações de proteção animal deviam poder unir-se nesta campanha.

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