"Medo
que o lobo ataque novamente" diz a letra abaixo da imagem, que causou
surpresa, consternação e alguns protestos a semana passada. A reportagem saiu
no jornal local da região sul da Suécia (do qual sou natural) e mostra os cadáveres
de alguma das cerca de 30 ovelhas mortas por um provável ataque de lobo.
Confesso que a notícia me deixou completamente surpreendida. O lugar onde
aconteceu é uma das áreas mais densamente povoadas da Suécia, a apenas 40 quilómetros
da terceira cidade do país e numa plena zona agrícola. Consciente do risco de
argumentação NIMBY (Not In My Backyard), a minha consternação tem sobretudo a
ver com esta infeliz manifestação de biodiversidade da vida selvagem.
Mas
essa não foi a única preocupação que a imagem levantou. Diz o editor do jornal
que foi contactado por leitores indignados com a decisão do jornal de publicar
uma imagem tão sangrenta. O formato do jornal é do habitual tablóide e, como podem ver,
a imagem ocupa a maior parte das duas páginas, pelo que o impacto deve ter sido
considerável para quem lê a versão em papel.
O
editor defende a sua decisão: o jornal é publicado numa zona fortemente agrícola, onde
a maioria dos habitantes come carne e muitos vivem da produção animal, e “escrever
sobre o lobo sem mostrar os resultados da sua atividade seria fechar os
olhos à verdade”.
Em Portugal os lobos têm sido ao longo dos anos os bodes expiatórios de ataques feitos por matilhas de cães, em especial em zonas mais próximas dos centros urbanos (Vila Real, Terras de Bouro). Qual o grau de certeza de que os ataques foram, de facto, feitos por lobos?
ResponderEliminarA imagem é explícita mas está longe de ser pornográfica (no sentido impressionável do termo). Parte da revolta de alguns leitores pode ter mais a ver com a forma como as carcaças são mostradas do que propriamente pela exibição das mesmas. A disposição das carcaças sugere violência (estão estiradas no chão, aos pés dos humanos, em desalinho, com os pescoços visivelmente rasgados e sangue a escorrer). Se elas estivessem alinhadas, numa posição mais natural, sobre uma superfície e sem sinais evidentes de sangue - como numa vulgar imagem de reses prontas para sair de um matadouro - estou certo de que nada teria sido dito dobre elas.
Há mais uma coisa com a fotografia, que só me ocorreu depois da publicação, e que o editor provavelmente não observou. Todas as ovelhas menos a primeira à esquerda estão esfoladas, o que explica o aspeto sangrenta da imagem. Nota-se bem na segunda ovelha da esquerda. Vamos dar o benefício da dúvida ao editor e pensar que ele não reconheceu este facto. Porque se observou, a escolha da publicação não é tão inocente quanto isto. O único predador que deixa as suas presas completamente esfoladas chama-se Homo sapiens sapiens.
ResponderEliminarMas a minha decisão de publicar a imagem também tem a ver com a minha própria experiência de encontrar animais mortos por um predador. Tivemos um ataque de uma mustela no galinheiro onde fiz os estudos para o meu doutoramento. O predador tinha tido o acesso total durante uma noite, e quando chegamos era sangue e galinhas mortas por todo lado. A minha reação imediata foi completamente irracional, foi de pensar que deviam vir os ativistas de libertação animal e ver as consequências da libertação de mustelas (mantidos para a produção de peles). O que penso que causa mais impacto é o desperdício, a matança de 30 quando mesmo uma matilha só conseguirão comer um ou dois.
O departamento de proteção da natureza na autoridade regional suspeita um lobo, com base em pegadas observadas no terreno. Não se conhece matilhas de cães vadios na zona (e cães vadios é um problema muito raro na Suécia), embora isto não exclui a possibilidade que tenha sido um cão fugido. Mas não há a última prova, claro.
Por razões profissionais acompanhei muitos casos de "ataques de lobo" a rebanhos e quase arrisco em dizer que 9 em cada 10 casos não passaram de falsos casos em que donos ou pastores mais não fizeram do que tentar refugar animais e receber a indemnização que ao tempo os Serviços Florestais pagavam... mas isso foi em Trás-os-Montes... fico, ainda assim, com dúvidas sobre esta ocorrência na Suécia, mas acredito que uma perícia veterinária esclareceria a situação...
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