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terça-feira, 26 de março de 2013

O uso de animais em investigação biomédica: uma perspectiva histórica

"O uso de animais não-humanos na pesquisa biomédica tem dado importantes contribuições para o progresso da medicina alcançado em nossos dias, tendo também sido motivo de acesa discussão pública, científica e filosófica." 

Frases como esta são frequentemente derramadas na secção introdutória ou no resumo de artigos subordinados à ética ou bem-estar de animais usados em ciência. Recentemente, decidi assumir o compromisso de ir mais longe e aprofundar a história por detrás de afirmações genéricas como esta, e fazer uma revisão do uso de animais em ciência, que identificasse os seus principais protagonistas e que avaliasse como esta prática afectou ou foi influenciada pela sociedade, desde a Antiguidade até os dias de hoje. Sendo o mote para este estudo sido dado pela necessidade de escrever uma introdução para a minha tese de doutoramento, a mesma acabou contudo por ganhar "vida própria". 

“Uma demonstração fisiológica através da vivisecção de um cão" 
 Émile-Édouard Mouchy (1832)



Assim, após análise de mais de duas centenas de referências, meses de escrita (e reescrita), dos imprescindíveis comentários da parte da Anna e do Manuel, e das valiosas críticas de quatro revisores anónimos, chega este estudo à sua forma final pela mão da Animals, uma recente revista científica em open-access, e com a qual posso dizer que tive uma excelente experiência, como autor. 


Espero que este artigo possa ajudar estudantes e académicos que necessitem de uma introdução aos aspectos historicamente relevantes da ciência, filosofia e sociologia da experimentação animal, bem como a todos aqueles com interesse pelo tema.
Ah, e não se admirem que comece a usar esta referência amiúde, no blog...

5 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo, Nuno. Será referência obrigatória nas minhas aulas de História da Medicina Veterinária.

    E já agora uma pergunta: de todos os artigos que consultaste, onde pensas que o uso de animais em investigação biomédica terá sido mais útil ou determinante? e onde se terão cometido mais abusos ou imprudências?

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  2. Obrigado, Manuel.

    Até fins do séc. XIX, início do séc. XX, a maior parte do trabalho com animais era mais do tipo exploratório, ou então aquilo que chamaríamos "investigação básica". Mas atenção que esta foi de extrema importância, pois a informação médica credível disponível era mínima até à segunda metade do séc. XIX. Desconheciam-se até então coisas tão elementares como a existência de germes causadores de doenças (com todas as terríveis consequências desse desconhecimento na prática da medicina e cirurgia), a imunidade, o funcionamento básico do sistema nervoso ou o conceito de homeostase, entre outros.

    O pior abuso na minha opinião prendeu-se com a repetição desnecessária de experiências para fins demonstrativos e educacionais, bem como a ausência do uso de anestésicos por parte de alguns investigadores, ou mesmo estudos anatómicos em animais vivos que podiam perfeitamente ser realizados em cadáveres. Mas temos que ver em perspectiva: num mundo em que as mulheres eram cidadãos de segunda e pessoas de outras raças eram consideradas inferiores, qual o lugar dos animais para a generalidade das pessoas, mesmo as mais letradas? Os primeiros movimentos antiviviseccionistas, recordo, eram sobretudo movidos pela aversão ao uso de animais domésticos, como cães e gatos, algo ao qual a posterior primazia dada ao uso de roedores não é certamente alheia.

    Quanto ao mais determinante, é difícil escolher. Se calhar dando uma espreitadela aos Prémios Nobel em Medicina e Fisiologia possamos ficar com uma ideia dos estudos com mais impacto. Mas muitos mais houve. A título pessoal, eu escolho estas conquistas como as mais determinantes para a melhoria da qualidade e esperança média de vida:

    - Descoberta dos germes
    - Descoberta do valor da cirurgia asséptica
    - Descoberta das vaccinas
    - Descoberta da acção dos antibióticos
    - Descoberta da função (e posterior produção em massa) de insulina

    A título de curiosidade, deixo aqui uma nota sobre a influência da descoberta dos germes na arquitectura e desenho de mobiliário, nomeadamente no movimento Art Déco, que representou na sua esscência o abandono do uso de grandes tapeçarias, materiais porosos e decorações intricadas e difíceis de limpar (entre outros) que eram mais propícios à proliferação de germes.

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  3. Parabéns Nuno :) Estava mesmo em falta uma compilação destas

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  4. Apesar do teor descaradamente narcista do gesto, não resisto a deixar aqui alguns comentários que vi na net a respeito deste artigo:

    "This article offers a comprehensive historical look at animal experimentation, primarily in Europe. It examines pertinent moral and social issues and discusses some of the main proponents and opponents in the debate. This backgrounder gives insight into the present-day take on the use of animals in biomedical research and suggests that the long-standing controversy on the topic is far from over. While the main arguments of the debate have not varied much over the years, the author concludes that progress has been made in terms of the welfare of research animals and transparency regarding their use."

    - HumaneSpot.org (Humane Research Council)


    "Interesting article on the history of animal use"

    - Understanding Animal Research

    "Interessante articolo sulla storia dell'utilizzo di animali nella sperimentazione"

    - A Favore della Sperimentazione Animale

    "Last month Nuno Henrique Franco, a graduate student at the University of Porto, published perspective on the history of animal research and the opposition to it in the open access journal Animals. It gives a good overview of many of the key developments and ideas that have shaped animal research over the past 2 millennia, and is a useful introduction to the subject for those who are curious to know how we got to where we are today."

    - Speaking of Research

    "A recent article reviews the use of non-human animals in biomedical research from a historical viewpoint, providing an insight into the most relevant social and moral issues on this topic across time, as well as to how the current paradigm for ethically and publicly acceptable use of animals in medical research has been achieved. Pretty good article, but at 36 pages, one to print out and read when you have the time."

    - The Foundation for Biomedical Research

    Apesar da maior parte das críticas aqui transcritas serem da parte de associações pró-ciência, saliento no entanto comentário do blog do Humane Research Council. Recebi ainda pessoalmente críticas positivas da parte de pessoas ligadas à protecção animal.
    Foi com agrado que constatei também que, apesar de ser recente, o artigo foi adicionado à bibliografia recomendada da Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

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  5. "Do you ever wonder how animals have been used in biomedical research? This article provides a comprehensive history."

    - Progress for Science (contra uso de animais)

    "Truly illuminating article on the history of in vivo research. Role of c.19th nationalism especially interesting"

    - Keep research afloat

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